sábado, 30 de junho de 2007

Não garanto

In illo tempore, a lot years ago, viele zeit, há boé d’anos même, ainda os animais falavam, vivia uma família - que me convém dizer - feliz, e que mais tarde se tornaria típica: casal e dois filhos.
Viviam no maior T.zero que possam imaginar, open space. Ali dormiam, ali cagavam e foder era onde calhava se lhes apetecia.
Os putos, qual putos qual quê, os marmanjões, assim é que é, já na casa dos trinta, não descolavam e se a mãe não os enxotasse a esta hora ainda mamavam, e ao colo!
Bom, voltemos à felicidade. Não lhes faltava nada, esticavam a mão e era uma banana, uma toranja ou um mamão, por ali se bastavam dada a vantagem de serem vegetarianos. Atenção, só não valia maçãs pois havia a estranha superstição de que davam azar. Como abaixo refiro, fartei-me de investigar a razão de tal crença mas não consegui apurar com rigor científico que prezo e confesso copiar em estilo gesto e timbre até, ao Professor Hermano.
Desculpa, estava na felicidade, pois é. Nada lhes faltava. Eram tão felizes, tão felizes, que até chateava, pronto.
A mãe extremosa compensava uma certa dose de impaciência do marido que se vinha acentuando desde que após parir, fora acometida por um estranho humor que a levava a sopetar a manápula do parceiro quando este lhe afagava a bunda. Mais tarde, já todos tinham ido desta para melhor, passe a figura de estilo cujo nome não me ocorre, ah! eufemismo talvez, se veio a designar por depressão post-parto. Tenham paciência que me desvio, eu sei, falava de impaciência. A patriarcal impaciência acentuou-se desde quando ainda putos nas brincadeiras, os gaiatos brigavam.
Consta que as primeiras brigas aconteceram, um ainda mal andava, quando brincavam com um cágado em cima de uma enorme laje que por sinal viria muito mais tarde a ser utilizada como chapéu ou tampa numa anta, para uns, dólmen para outros. Foram crescendo e as putas das disputas não paravam, aumentavam até em baritonos berreiros com expressões que inventavam no momento e – cito Umbeto Eco, que sabe destas merdas para caralhos – viriam a dar origem à chamada linguagem venácula, que só uso informalmente e da qual nesta comunicação de cariz científico sou obrigado a abster-me.
Cabe aqui dizer que um deles foi acalmando. Deixou de ligar ao irmão quando aquele queria merda;
-Ai é? Queres barraquinha! – dizia.
Dizia, levantava-se, pegava numa, ovelhinha, ia para trás de umas moitas. Voltava uns tempos depois com um sorriso nos lábios, olhar sereno de borrego, cara de anjo por inventar. A paz voltava; às provocações não ligava e quando a coisa era demais… lá pegava ele na ovelhinha e seguia para trás das moitas, até que um dia… estavam todos eles a dormir a sesta, cada qual debaixo do seu carvalho ("Quercus suber", para ser mais preciso), ouve-se um ganda e seco estrondo na sêca tarde que a Agosto corresponde no nosso calendário (mas que de tal forma não era designado, atentem ao facto onde espaço-temporalmente decorre a acção) que os faz dar um pinote para fora dos sonhos onde estavam alapados e alapardados, apardalados, sabiam lá com o cagaçoi que apanharam, altas chamas vêm eclodir das já referidas moitas e exangue a branca ovelhinha deitar a língua de fora para em seguida esticar um pernil.
-Raios foi ele, malvado.
-Fui eu o quê! Raios de feitio, acalma-te que moitas há muitas.
-Fodeste-me a ovelha.
-Fodi a ovelha? Que é isso de foder?
-Ainda te fodo um dia, vais ver.
O pai passou-se. Virou costas largou um peido e foi pó rio. A mãe lá ficou agarrada à bronca e tentou acalmar a situação.
-Oh filho, não foi nada o teu irmão, garanto-te.
-Lá tás tu a desculpá-lo, cara.. (ia a dizer mas emendou respeitoso) CARAGO.
A mãe ciente da verdade mas atrapalhada, pois não queria dizer que até estava a dar de mamar ao mano, dada a nega que na véspera lhe dera… vocês sabem como é, adiante.
-Não foi meu filho, nós até estávamos ali a jogar à sardinha, não é? disse piscando o olho de soslaio para o outro.
-Ai é? Então foi o pai, não!

-Qual quê, o pai não, disse entaladinha, deve ter sido DEUS, ocorreu-lhe em vez de gambuzino.
Deus? Quem é esse gajo disseram os manos olhando à volta.
-É um ser omnipotente, omnisciente, omnipresente e invisível disse ela para se desenrascar.
Ah! fizeram os manos, e a coisa ficou por aqui, dizem.
***
Como informação complementar digo-vos eu:
Treze dias mais tarde, numa discussão sobre um pássaro em que um teimava que era pêga e o outro que não, que era melro, nervos em franja, sem moitas nem ovelhinha que o acalmasse, rapa do já citado cágado, eleva-o a duas mãos sobre a cabeça enquanto o voltava de papo para o céu e em movimento uniformemente acelerado, ZUMBA, afinfou-o pelo fraterno ocipital.
Lingua de fora, seguiu-se o esticar de pernil, pois Abel não era lá muito criativo.
A Caim, coitado, os pais mandaram-no para o cabrão do corno de África, não houve então Deus que lhe valesse.
Há mães assim já a minha torce sempre pelo cabrão do meu irmão.
***
Os meus agradecimentos a:
- Fontes geralmente bem informadas:
Raf, Bino, Cap & Somebody-Else-As-Garf Asociated.
- Cardeal Erectrinnsky, curador
daBiblioteca do Vait&cano
- Myria-Baum Yurion da
FundaSão Estrela De Seis Pontas
- Dimitri K.x.B., Acessor do Instituto
de Ciências ParaAnormais
- António Silva, Sócio Gerente da C e A
- Gush Beorge Jr.,General World
Wilde Well-advisor
Consultoria e revisão oficial:
- Maluro, ME
- Lino, OP
- C. Campos, MS


Construção / Deus lhe pague

Chico Buarque
Composição: Chico Buarque

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Deus Lhe Pague

Chico Buarque
Composição: Chico Buarque

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer, e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague

Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí"
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Um crime pra comentar e um samba pra distrair
Deus lhe pague

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague

domingo, 24 de junho de 2007

Empoleirado olho a rua deserta na frescura da manhã, esperando que venhas. O prédio em frente todo ele dorme, sei que virás.
O tempo passa e com ele vai passando devagar um carro ainda com as luzes acesas, aposto que vai em frente mas afinal vira à direita, outro virá. Lá vem um preto em passo aparentemente apressado, metendo a fralda para dentro, abranda e acaba por parar nas montras daquela loja, a minha loja preferida que se esconde debaixo das arcadas que só me deixam ver-lhe um pouquinho dela. Chamo-o: Hei, psst. Olha, para todo o lado e desiste, de novo: Hei, psst, de novo olha. Hei, psst , hei! agora olha na minha direcção. Aceno-lhe e ele ri branco no meio do negro e afasta-se. Hei, psst., hei, psst. Já não me liga, fica o tempo a passar.
Assomarás por aquela esquina montado na bicicleta, depois descerei pela mão da minha avó e então iremos, já não sei para onde, para a praia talvez.

sábado, 23 de junho de 2007

recuando por ruas e praças

O sol queima, a multidão em torno de turcos e tachos entre miras e ustedes parece buscar o pote de ouro no final de um arco-íris, a suposta alegria de um dia de férias não se conforma com o fervilhar de um euro pelas alminhas; estranha forma de vida. Por cima do vespeiro insinuam-se sons em crescendo com os passos que se dá até que nos depararmos com eles, sós na multidão de ferramentas na mão, alheios aos que passam, face a face, atacam a um gesto de olhar ou decidido avançar de queixo, alheios à moeda que por vezes tomba na caixa da guitarra.





As mãos percorrem a escala, não mais a esquecerei.

***


Abandonada a lancha, meia dúzia aqui, outra acolá são despejados em pensões de ruelas escuras, abandonadas as malas em apertados quartos, partem à descoberta. S. Marcos deserta no sol-posto de Maio, arcadas e longínquo som mistério revela-se sob o arco fronteiro. Prendem-se diante do corpo que se move ondulante. Trocam palavras em surdina tocados pela magia dos cheiros luz e som; acabou, o silêncio instala-se mas fica a magia do carinho com que passa o lenço pelas cordas; não sei quem avança e deposita umas liras na caixa, os outros seguem-lhe o exemplo, ela mais desinibida presenteia-o, in english, com uns elogios, ele devolve com um sorriso e um OBRIGADO.

Segue-se uma noite de alegria, de muitos copos, corpos e promessas não cumpridas.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Cantiga de Amigo





Nem um poema nem um verso nem um canto
tudo raso de ausência tudo liso de espanto
e nem Camões Virgílio Shelley Dante
o meu amigo está longe
e a distância é bastante.

Nem um som nem um grito nem um ai
tudo calado todos sem mãe nem pai
Ah não Camões Virgílio Shelley Dante!

o meu amigo está longe
e a tristeza é bastante.

Nada a não ser este silêncio tenso
que faz do amor sozinho o amor imenso.
Calai Camões Virgílio Shelley Dante:
e a saudade é bastante!
Ary dos Santos

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Chegam de repente, sem avisar, as notícias:
Está a querer ir embora.
O tempo pára, rola ao contrário, desenrolam-se imagens difusas, sorrisos, olhares, gestos, carícias.
Voo ao seu encontro, afinal ainda está. Perscruto-lhe os olhos, é mentira, ainda quer ficar. Vai ficar, vai ficar, vai ficar.
Desculpem, vou ali só dar-lhe a mão, devolver-lhe mil carícias e ternuras.
Quando voltar eu aviso.


sábado, 16 de junho de 2007

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Já não phalo dum Zippo

imagem de Robert Gligorov


Gostava de ser um Ronson.



















Um Dupont, não.











É uma mania como outra qualquer. Porquê Ronson? Porque soa a Bronson e Dupont a Dupond/TIN-TIN e tantã não me favorece o perfil.
Põe-se aqui o ser e o querer ser.
É-se o que s’é e temos que aprender a viver com isso, conformar-me, pôr-me dentro da “fôrma”, na “fórma” alinhadinho por mim mesmo.

Gostaria de ser homem de amores mas sou de paixões. Sinceramente não sei bem qual é a diferença. Dava-me jeito que fossem a mesma coisa mas algo me diz que o amor é permanente e a paixão…
A paixão será uma forma de amar só que… (?)
Será que o amor é como os isqueiros que se vão alimentando de gás e renovando a pedra por maneira a ter sempre a chama à mão, e a paixão é como o fósforo – combustão rápida, perecível? Um e outro são sensíveis a ventos e devem ser deles protegidos. Confortava-me a ideia que apaixonado é o ser com a capacidade de amar muito, muitas vezes.

Pois é gostava de ser um Ronson mas qual quê! nem um Dupond ou até um Zippo, sou. Contentar-me-ei com o ser uma caixa de fósforos. A porra é que mais de metade deles já lá vão e a lixa está pó lixadito.

continha quarenta amorfos





Deixa-me rir

Jorge Palma

Tu nunca lambeste uma lágrima
Desconheces os cambiantes do seu sabor
Nunca seguiste a sua pista
Do regaço à nascente
Não me venhas falar de amor
Pois é , pois é
Há quem viva escondido a vida inteira
Domingo sabe de cor
O que vai dizer Segunda-Feira

Deixa-me rir
Tu nunca auscultaste esse engenho
De que que falas com tanto apreço
Esse curioso alambique
Onde são destilados
Noite e dia o choro e o riso
Deixa-me rir
Ou então deixa-me entrar em ti
Ser o teu mestre só por um instante
Iluminar o teu refúgio
Aquecer-te essas mãos
Rasgar-te a máscara sufocante

Pois é, pois é
Há quem viva escondido a vida inteira
Domingo sabe de cor
O que vai dizer Segunda-Feira

c1




quinta-feira, 14 de junho de 2007

Separar de águas

Portugal agita-se perante o caso APITO DOURADO. Quem tenha ouvido o debate na TSF, testemunhará o empenho apaixonado das intervenções, a maior parte em defesa de Nuno Pinto da Costa.
Nuno está acusado como autor de crime de corrupção, nada mais que isso, presume-se por isso que é inocente.
Não há no activo da direcção desportiva de um clube alguém que se lhe compare pelos sucessos obtidos a nível nacional e internacional, nada mais que isso, o que não o torna impune face à lei em qualquer circunstância.
Presumindo a inocência de Nuno, admira-me que não seja ele o primeiro a regozijar-se pelo facto de estar a ser investigado, pois só a ilibação o limpará definitivamente de qualquer suspeição. Note-se que Nuno não tem que provar a sua inocência, é ao Ministério Público que compete provar a sua culpa. Se por acaso este caso culminar com uma absolvição por qualquer recurso a expedientes processuais, isso significará que Nuno é inocente?
A meu ver será difícil provar a sua culpa, pois no léxico comum, fruta e puta, são coisas diferentes. No telefonema escutado até pode ter sido utilizada uma comunicação criptada, mas isso terá de ser provado.
Este processo é reaberto a partir do conteúdo do livro de Catarina Salgado que, como é sabido, o publicou movida por despeito e provavelmente por conflitos de interesses materiais, o que não é propriamente um acto de grande nobreza.

Bom, mas as águas que eu quero separar, nem são bem estas, o que eu gostaria de separar verdadeiramente é o que é de objectiva importância para o país, do que é acessório. Infelizmente o futebol avançou muito para além do que deveria ter ido, de tal maneira que não há politico, que se preze de não ser anjinho, que não avalie muito calculistamente o que é que pode ganhar com ele, com o mundo do futebol.
Isto leva-nos a um problema, como é que funciona o “SISTEMA” de que há muito não ouço falar? Sabendo que em todos os clubes há gente que milita em todos os partidos, como é que funciona o “SISTEMA”? Confesso-vos que não sei. Na escola onde andei não havia essa cadeira, mas se perguntarem à Sra. D. Carolina Salgado, que é de outra escola, ela de certeza que sabe.

Para me tranquilizar explico o fenómeno, arquivando o processo: o “SISTEMA” é como as “BRUXAS”, não acredito nele e nelas.
pero que las hay, las hay.





Até Mais Não Poder Ser


Bonito
Eu só quero acordar e ver o mundo bonito
Abrir os olhos e ver alguém bonito
Sorrindo até mais não poder ser

Contente
Quero dar cambalhotas no ar e estar contente
Fazer amor e gostar de toda a gente
Contente até mais não poder ser

A erva é mais verde do outro lado da montanha
E as estrelas parecem mais brilhantes
Nos arquipélagos do Sul
Há quem diga que a vida é mais fácil para lá de Espanha
E há quem goste do céu mesmo quando ele não é azul
Há quem goste do céu mesmo quando ele não é azul

No peito
Eu só quero trazer o universo no peito
Ir encontrar as palavras lá no peito
Aberto até mais não poder ser

Mais tarde
Eu prefiro deixar a amargura para mais tarde
Fazer esperar a agonia até mais tarde
Mais tarde até mais não poder ser

A erva é mais verde do outro lado da montanha
E as estrelas parecem mais brilhantes
Nos arquipélagos do Sul
Há quem diga que a vida é mais fácil para lá de Espanha
E há quem goste do céu mesmo quando ele não é azul
Há quem goste do céu mesmo quando ele não é azul

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Nem ele lhe valeu


O Centro de Saúde de Vendas Novas foi encerrado por determinação ministerial, sucede que uma decisão judicial impôs a sua reabertura. O ministério da saúde não acatou, decidiu recorrer. Se está ou não no seu direito, não sei. Sei que uma população em peso manifestou a sua indignação pelo prejuízo que acarretaria o seu encerramento.
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Não sei como se chamava
Nem sei que idade tinha
Mas sei que ela morava
Ao lado da capelinha.
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A notícia correu, hoje, logo pela manhã, discreta, no meio das do rescaldo das marchas: Uma mulher residindo a 500 m do Centro de Saúde de Vendas Novas, acometida de um ataque cardíaco, teve de ser evacuada para o Hospital de Évora.
Sucede que a lei da vida não se conforma com as regras da administração pública e assim uma mulher de quem não sei o nome, a idade, ou a cor dos olhos, morreu.
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Há dias fiz uma paródia que me valeu comentários lisonjeiros pelo seu humor.
Porra, afinal aquilo não tinha piada nenhuma.
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***




Mandad’ ei comigo
Martin Codax (sec XIII)

Mandad’ ei comigo
ca yen meu amigo:
Eirey, madr' a Vigo!

Comigo’ ei mandado
ca vem meu amado:
Eirey, madr’ a Vigo!

Ca yen meu amigo
e yen san’ e vivo:
E irey, madr’ a Vigo!

Ca yen meu amado
e yen viv’ e sano:
E irey, madr’ a Vigo!

Ca yen san’e vivo
e d’el-rey amigo:
E irey, madr' a Vigo!

Ca yen viv’ e sano
e d’el-rey privado:
E irey, madr' a Vigo!

terça-feira, 12 de junho de 2007

OTÁrios

Andava eu passeando o mê canito quando ele me desata a fugir, por entre as estevas, louco como quando dá com o cheiro de coelho ou perdiz agachados no meio do mato; lá o segui a pensar se teria fritada ou canja quando dei com ele arremetendo um paisano de cu pó ar que estava esgravatando o chão em torno de uns chaparros.
-Já qui Meco, mas o gajo fazia-se de desentendido. –Já qui olha que… e o gajo lá veio assolapado de rabo entre as pernas para ali se ficar a três passos, mirando o cajado, esperando a arrochada. Safou-se por obra e graça do senhor a que ele cobiçara as nalgas.
-Deixe lá o cão que não fez mal nenhum.
Tá visto que era um bom homem, mas estava visto que de cães não percebe nada. A confirmar qu’é bom, o homem ofereceu-me um cigarrito preto e a cheirar a mel que tirou de uma latita finória, pondo-se a tagarelar: Como se chamava o canito mais eu, ao que andava, enfim conversa de quem vem de longe e tem tempo de sobra porque não demorou a contar que andava aos cogumelos.
-Oh homem! Aos cogumelos?
Pois era, que eles cresciam em tempo de chuva e tivera o cuidado de ver o borda d’água da TV.
– Mas se já vamos em Junho! lá expliquei, pode ser que sim mas que tivesse paciência e que esperasse pela chuva para ver depois.
Mas o homem era um falador, que não se calava e vai daí pergunta-me o que achava da OTA.
–Da quê!
-Do aeroporto, não me diga que nunca andou de avião!
- De carreira já, sim senhor, mas d’avião para onde preciso d’ir não dava muito jeito.
-Então vocês aqui, precisam ou não precisam de aeroporto?
-Qual quê? Precisamos lá agora! A barulhêra que fazem, mais os terroristas que se apegam a eles, quer lá a gente uma coisa dessas, ainda nos dinamitavam a nossa rica ponte.
Os olhinhos brilharam, o sorriso abriu-se-lhe no rosto.
-E o senhor o que é que faz?
-Olhe, vou fazendo o que aparece e se não aparece... espero que apareça.
-Boa filosofia sim senhor. Era capaz de o convidar para meu assessor. Com esta é que o gajo me lixou! Ainda estou para saber o que é que o raio do homem queria dizer com aquilo.
– E isso é a modos de quê?
-Olhe, coisa pouca. Só tinha que e explicar às pessoas porque é que o aeroporto não faz falta aqui, e me ir dando umas ideias, para contentar estas gentes.
Gaita, disse cá para comigo, um emprego desses é que vinha mesmo a calhar. A jorna não deve ser longa e as costas não devem moer.
-Nunca se sabe, pois não e já agora adianto-lhe, de borla, diga lá ao seu patrão que o que pouparem no aeroporto, que aqui não faz falta, façam a mercê de construir uns canaizitos e nos trazer a água que ajuntaram lá no Alqueva de que pouco nos serve onde está.

***

I think I'm gonna be sad, I think it's today, Yeah
The girl that's driving me mad is going away
She's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride
but she don't care
She said that living with me is bringing her down, yeah
For she would never be free when I was around
She's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride
but she don't care

I don't know why she's riding so high
She ought to think right
She ought to do right by me
Before she gets to saying goodbye
She ought to think right
She ought to do right by me

I think I'm gonna be sad, I think it's today, Yeah
The girl that's driving me mad is going away, yeah, oh
She's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride
but she don't care
I don't know why she's riding so high
She ought to think right
She ought to do right by me
Before she gets to saying goodbye
She ought to think right
She ought to do right by me

She said that living with me is bringing her down, yeah
For she would never be free when I was around
She's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride
but she don't care
My baby don't care
My baby don't care
My baby don't care
My baby don't care
My baby don't care

Odisseia no espaço e no tempo

A DI tem lá no seu cantinho e convida-nos a ver que idade teriamos se vivêssemos noutro planeta, pois em:
Mercurio 241 anos.

Teria ultrapassado a minha esperança de vida.



Vénus 95 anos.


Estava quase lá


Terra 50 e muitos picos

A meia vida, lá vou gozando a meia-nau. De vez em quando vou até à proa. Vivi o suficiente para dar uns conselhos e ainda pouco para me aconselhar a mim próprio.Acho que devia de começar a fazer planos (não muito inclinados, claro).

Marte 31 anos.
Semanas longas e fins de semana curtos.
Uma época em que me propunha missões impossíveis, mas que afinal foram possíveis!!!
Disseram-me que tinha nascido com o cú virado para a lua.

Júpiter 5 anos.
Uma merda, dias curtíssimos.
A angustia de o dia ter acabado e de não ter brincado nada.
A descoberta que ou crescia rápido ou tinha que passar a vida a comer sopa e fruta.

Saturno 2 anos.

Dizem que me preparava para uma primeira batalha que viria a vencer: "primo-infecção-pulmunar". Não me atribuíram mérito algum mas sim a um tal Fleming que inventou a "penincelina" . Descubri que afinal foi a penicilina.


Como diz a Di: Daqui para baixo sabe-se lá.

Neptuno 8 meses
Urano 5 meses

Plutão 3 meses


domingo, 10 de junho de 2007

Ao quarto dia fez-se luz


quarta feira
Comecei a ver estrelas, lá pelas 10:00. Estaria lá, não estava? Às 14:30 sabia que estava, mas era pequena. Deus é grande.
quinta e sexta
as estrelas continuam e ela no vai-vém.

sábado

cinco da matina, Oi! lá se vem ela; outra vez. Ai!! Bem bom. Agora é a sério. Calhaus que vos pôs, quem e quando vos levam? Seis horas de notável hospitalidade, sempre a dar na veia.

22:00 - Parece que vejo fazer-se luz

23:30 - Foi-se, espero.

Domingo

6:30 - Foi-se mesmo!!! Espero que não voltes, vaya con Dios.

d'aqui

9:20 - Afinal a puta está cá para me moer, devagarinho mas ainda moi. Vou já tratar dela e logo se verá.

12:00 - Foi-se mesmo. Ganda pedrada

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Não enteniquem, por favor,

Os senhores deixem trabalhar quem sabe, parem com os bitaites e as senhoras, que parem, continuem a parir. Onde? No local mais próximo do rebentar das águas claro.
Nada de chiadeiras que a rede está lançada. Nada de palpites porque as que ainda não pariram não percebem da poda e as que pariram no sistema antigo, até experimentarem o novo, também não têm voto na matéria. Confiem e descansem, tá? Senão vejam, ou melhor, leiam:

Especialista em economia da saúde, cuidados de saúde a idosos, política de saúde e equidade, segurança social e administração pública, sendo, nestas áreas único autor de 5 livros e editor de outros três e autor de cerca de cem artigos científicos em revistas nacionais e estrangeiras.

in portal do governo
Perceberam agora, dá pa estarem quedas? Não! O sr. Ministro não tem experiência no parir? Porra isso é um argumento mal parido, desculpem lá. Agora António Fernando Correia de Campos tinha que dar à luz primeiro para vos satisfazer as necessidades depois, era? Mas isso é impossível ! ! !

Forjado na escola da vida - sim porque do currículo não consta a “Independente” - , e incondicional do velho estoicismo, sentenciou:

- Diz quem sabe que comparável ao parto só uma cólica renal.

Eu cá nã sei mas se parto sem epidural é como uma cólica renal, tá bem, tá!!! Ainda bem que a minha múltipla afirmação paternal não teve o encargo de parir pois só o primeiro é que me enganava, e por ali ficava, pois as duas cólicas que já tive, mais um ameaço de terceira, deram em serenatas cantadas de improviso que ofuscam as de qualquer Madalena arrependida das noites longas da Alfredo da Costa.

Mas propôs ele, valente: - Para Odemira ou pá Sonega e em força, já. Simples Tó serei e assim o sistema testarei.
Se bem o disse melhor o fez.
Lá pelas duas da matina, induziram ao caudilho da saúde, dentro da Ford Transit do padeiro, Presidente da Junta e militante de base, uma cólica renal das boas e depois… pôs-se o sistema a funcionar, apelando para os recursos locais.
Como o Centro de Saúde tinha sido fechado, por Sua Excelencia, o ministro… Bombeiros.
Os Bombeiros não puderam dar resposta pois, bramava o Comandante, ex-sargento de engenharia com duas comissões, uma em Angola e outra na Graça:
-Isto assim é uma merda, agora é que a bateria da ambulância é que havia de dar o berro!!! -Oh Pereira (o maqueiro) e tu e tu, toca a empurrar; e sem cerimónias atirou-se logo ele ao guarda-lama traseiro da Peugeot 504. Foi um gosto ver a Bina Maria, nome que herdara da madrinha que a baptizou, percorridos trinta metros, pegar numa apoteose de fumo negro.
–Acelera, nã pares, vai dar a volta pelo mercado; puxa dum SG Ventil aguardando o retorno da viatura. Já o comandante fumava o filtro quando vê o condutor a penantes.
–Deixaste-a ir abaixo, foi? Meu merdas !
–Nã mê comandanti, faltou o ga ga…gasóli, disse atrapalhado.
–Foda-se, disse o comandante fodido.

Bom o Tó recebeu a notícia já sem saber se lhe doía o colhão esquerdo ou o olho do cu, mas fez um sorriso, que ao Presidente da Junta, pareceu um esgar.
-Chama o INEM, para o Sr. Ministro, disse ao escriturário em vias de ser admitido no partido.
–Ministro?
–Sim Ministro, calé ádmiração? Nã vês cu home se chama António Ministro?
O escriturário só fez: aaah!

Uma hora de ais e uis, depois de chamado o INEM, lá lhe arranjaram um Buscopan que enfiado pelas nalgas acima, deixou o Tó animado no propósito a que se cometera, se bem que a cólica persistisse. Passadas mais uma hora, andava o Tó à reboleta de um lado para o outro, quando chega a equipa INEM. Enfiam com o soro no braço e o Tó na maca e aí vão eles, ninóni até Beja, de pirilampo a dar a dar por essas curvas e buracos, com o tempo andando mais devagar que os quilómetros, maqueiro, condutor e médico tagarelando lá à frente, o Tó rebolando-se cá atrás sem achar piada nenhuma à anedota que contavam de um tal engenheiro do canudo.
O esforço foi demais, o homem foi-se nos sentidos e já delirava; já se via gravemente grávido com a dor de rins. Recobrou ao entrar no Hospital quando lhe perguntarem a identidade:
-Como se chama?
-Tó,Tó…
- Tótó, quê?
Mas mais não disse, apagou-se de novo. Só acordou no dia seguinte com uma simpática enfermêra à cabecêra:
-Quer vêri o que dêtou fora?
-Sim, disse com voz doce, foi menino ou menina?

terça-feira, 5 de junho de 2007

mal me quer



bem mebem me quer quer




* E esta heim!
Fiz esta brincadeira, dia 5, salvei-a em draft, e só hoje dia 6 a publiquei.
A imaginação pelos vistos é tão pequena quanto o mundo, as ideias encontram-se por aí como as pessoas, mesmo quando estão muito longe.
Só Toix, my friend, perceberá!!!
Tivesse acontecido com outro blog e retiraria o post de imediato.






segunda-feira, 4 de junho de 2007

Felizmente cresci numa época de abundância e optimismo.

Vivi olhando com alguma sobranceria a minha avó que dava cabo das lâmpadas num estranho ritual de apagar e acender luzes, comprometedor da esperança de vida dos filamentos, e entre sermões de necessidade de poupança. Herdei sem saber os tiques de guardar lixo que atafulham gavetas e dispensas com vista a uma necessidade futura, inevitavelmente relegado para o esquecimento não servindo absolutamente para nada.



Paula rego Untitled-10


Era enervante aturar as suas manias mas eu lá condescendia, julgo que de forma inconsciente, a troco do carinho que recebia.Os cortes para calças ou camisas eram comprados após avaliações de alturas ou larguras sempre tendo em conta uma folgada bainha dado vaticinar que eu ainda iria dar um pulo. Virava colarinhos e punhos, botavam-se solas e meias solas com protectores metálicos, tão do meu agrado pelo partido que tirava deles, mais não fosse, em sapateados balançados segundo a inspiração da última “cóboiada” ou episódio do Bonanza.
Na cozinha as metamorfoses sucediam-se em deliciosas propostas que podiam evoluir de cozido à portuguesa em empadão ou de carne estufada em croquetes tal como os restos de uma pescada cozida com todos se finava em deliciosa tortilha. A “roupa velha” não conta porque resultava de uma acção premeditada em vésperas de Natal.
Se uma torneira pingava havia algum recipiente que se encarregava de recolher durante o dia ou noite para posterior utilização em lavagens ou mesmo cozinhados.
Ah! as braseiras. Para quem seja familiar, eram dois ou três objectos que cirandavam pelos quartos da casa, incluindo o quarto de banho. Uma dela era a rica, de cobre, as outras, as de folha-de-flandres, não me lembro de lhes ter sido dito nada, mas seriam as pobres, coitadas! Por engenho da "velha" e o muito moer o ferreiro, sofreram um up-grade: uma grelha em ferro forjado, pensarão vocês que por questões de segurança, talvez; mas o certo é que levavam em cima com um jarro de esmalte que se não vertesse as águas numa espécie de bidé, para algum banho checo ou lavar de pé, acabava entre lençois numas botijas de barro ou em ultimo caso no alguidar de lavar a louça.
Tostão era tostão, lençol velho não morria como tal. O carvão do fogareiro, assadas as sardinhas, era salvo por uma baldada e ficava a secar esperando um carapau.
Com ela tudo produzia e se possível mais do que uma vez e uma coisa. No quintal, o que produzia sombra também produzia figos, as galinhas ou produziam ovos ou antecipavam a produção de carne e as desgraçadas das coelhas como nunca se habituaram a pôr ovos punham coelhinhos ou eram rapidamente associados à vinha-d’alhos.
Com a genica que tinha e capacidade de polivalência se me tenho lembrado de a inscrever na independente, não sei, com a crise que para aqui vai… Ambiente, Economia?




Paula Rego Assumption

uma mulher com A grande

Paula Rego


bravoOO

sábado, 2 de junho de 2007

Provincianismo


Sábado, lorpamente, além Tejo, oiço gostosamente Mozart sem saber se é a 39ª ou a 29ª, sei lá se posso confiar no Independente, e leio com ar de simplório arrogante:
E escrevinho entre umas fumaças, sorrisinhos irónicos, e consultas do Francisco Torrinha.

“O resto é paisagem” é uma expressão utilizada, normalmente, em contextos de ironia provocatória, de forma que se enquadra no domínio da afectividade.

-Onde vais?
-Para a província.
-Ah! Que bom. Bons ares, gente boa, boa comida… O resto acrescentam vossencias, o que vos aprouver.

Mas só? Não.
Sabemos que Lisboa é a “CAPITAL”, a cabeça, pelo que é incontestável: O que é bom para a cabeça é bom para o resto, faço jus, sem prescindir da verdade inversa.
Já na jus romana se entendia tão simples principio e aos territórios conquistados fora da “Itália” (leia-se Roma em sentido lato), às províncias e aos “provincialis” eram reconhecidos os direitos de Roma, o que só prova a importância da estruturação administrativa e a requintada sensibilidade dos nossos ancestrais patrícios.

Regozijo-me com a herança preservada. Aprecio o requinte embora, confesso, o tente disfarçar sem saber bem porquê nem interessa, pois para o caso em questão está a provincial importância da herança requintada.
O importante, de capital importância, é a subtileza, a acuidade e finura herdadas, como por exemplo, quando na ONU, encostados entre a tribuna e o espaldar das cadeiras, víamos o nosso império colonial ameaçado. Entregámos de mão beijada o ouro aos bárbaros bandidos? Nem é preciso responder!
Qual colónias qual quê! Um só país uma só nação, do Minho a Timor, um Portugal semeadinho de províncias é que era, vissem bem, exigíamos orgulhosamente sós.
Pouco atempadamente, na década de sessenta, fizeram-se as maiores reformas da nossa história: Onde se lia Colónia passou a ler-se Provincia, despediu-se o Ministro das Colónias, a CCN - Companhia Colonial de Navegação foi-se a martelo e pouco mais que eu me lembre, mas já foi muito.
Os brancos de segunda e os indígenas mesclaram-se em Portugueses com os Portugueses de gema. Foi tão bonito!
Benfica e Sporinguê,
rebita e fandango,
Afonso Henriques e Rainha Ginga,
muamba e cabidela,
avé-marias e batuques,
coisa com coiso.
Não vos massacro mais, senão falava-vos dos iluminados míopes deserdados que do alto de uma das sete colinas enxergam o deserto nesta margem, enquanto me perco em pensamentos ouvindo lá do azul aviões passando para o Portugal viçoso.
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Barragem do Ferrozinho by Lorpa