domingo, 30 de março de 2008

Menos uma hora

O sono, bem escaço, ainda que proteste, que se lixe. Até que as folhas caiam poderemos gozar o sol por mais uma hora!

Tou tão contente que vou já pular pá rua de calção e chinelito, ah! ainda que o dia nã ajude não podiam faltar...





ah! pombinhas, nã se esqueçam...



tokákurtir

sexta-feira, 28 de março de 2008

O Estado do paradoxo.

No final somos nós que pagamos… E com este argumento surgem dúvidas quanto à responsabilização dos agentes do estado, nomeadamente dos tribunais e respectivos juízes.
Numa primeira mirada dá para estranhar que o mais alto magistrado da nação torça o nariz à aplicação de uma lei que parece dar satisfação aos protestos continuados de todas as castas de povinho, mas Cavaco não é coxo de todo e se pensarmos numa justiça célere não será difícil imaginar que estaria armada a grande confusão por esses tribunais fora, a não ser que à semelhança da saúde se impusessem taxas moderadoras.

Pela mesma razão, serviços de saúde eficientes atrairiam muitos mais utentes. Mais do que as taxas moderadoras é a própria qualidade dos serviços dissuasora, por si mesma, da procura de panaceias para má disposições,quase sempre passageiras. Por outro lado os (im)pacientes não têm em consideração que a reacção do organismo basta para a cura de muito mal. É verdade que saúde não é matemática e se isto não dá conta certa como na divisão… consideremos as mortes, que vão amiúde acontecendo, como mero resto.

O mesmo se passa na educação. Um país sem oferta de empregos vê crescer o número de licenciados concorrendo a postos de trabalho destinados a indiferenciados, como por exemplo, desqualificadas operadoras de caixas registadoras em fultaime, ou em partaime técnicos de limpeza ou de segurança.

Um estado eficiente serve para quê? Para convivermos com a eficiência teríamos que ter políticos e empresários, agentes do estado e operários, sindicatos e associações empresariais, e o demais, igualmente eficientes, né?
P'a pior já basta assim, porque doutro modo não resistiríamos a fracassos; deste modo, a culpa se não é deles é do sistema.

Minha é que não é.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Sumol is beautiful

Adorei quando me passaram a tratar por Mini. O tempo da rata do Mickey já lá vai, tempo dos Mini Cooper S, do aparecimento, mais tarde, da mini-Sagres, mas mais relevante era, obrigado Mary Quant, a mini-saia.

Tivesse eu os joelhos de outrora e ainda as usava, podem crer, mas a vida madrasta atropela-nos com desilusões e maior que a perversidade das amigas não há. Eu conto.
Foi no encontro das antigas alunas do Liceu. Estávamos todas tão alegres, a minha felicidade transbordava porque, tirando uma ou outra afectada nos modos e pelo Alzeimer, todos se lembravam de mim, só isso.

-Olha a Mini! e lá levava eu com um par de beijocas.
O jantar decorreu bem, a surpresa do streap, não sendo nada de original, contribuiu até para aumentar a desinibição, tudo teria corrido pelo melhor se não tivesse indagado porque é que me tinham baptizado de Mini.

A maioria não sabia mas a Mizé Almeida esclareceu:

- Por três razões. Pelas saias (enrubesci de prazer), pelas vistas curtas (compus os óculos) e pelas ideias (engasguei-me).


Não fora a risota geral e até tinha ficado mais um pouco.


Mas há quem goste de apagar o fogo com gasolina ainda que a mais de 100 US$ o barril. Confesso que já não me lembro do que foi mas. ainda mal se dissipara o fumo branco que teimara em parecer negro, e a polémica estalou com umas quaisquer reflexões ou santas declarações, que a minha minisse não permite recordar *. Agora…



Mas que bela mensagem pascal, destaco:

Bento XVI apelou ontem à paz no Tibete, no Médio Oriente e em África, no encerramento das celebrações pascais que decorreram sob o signo da liberdade religiosa.(…)
(…)"Não podemos deixar de pensar nalgumas regiões africanas, tais como o Darfur ou a Somália, no atormentado Médio Oriente e no Tibete, regiões que eu encorajo a encontrar soluções que salvaguardem a paz."(…)
(…)No sábado, na vigília pascal, Bento XVI também cumpriu a tradição e baptizou sete adultos, um dos quais um antigo muçulmano. Magdi Allam, natural do Cairo, é editorialista do Corriere della Sera e um dos maiores críticos do islão. (…)
(…)Lembrando que no passado foi um "muçulmano moderado", o editorialista, de 56 anos, afirma que "se libertou do obscurantismo de uma ideologia que legitima a mentira e a dissimulação, a morte violenta (...) e a submissão à tirania".(…)
Bom a ladainha vai longa, o tempo melhora, melhor será que vá dar banhos de mar às varizes, recebam um beijo da vossa,

Mini Pascoal


* "Mostre-me o que Maomé trouxe que era novo, e lá você encontrará apenas coisas más e desumanas, como o seu comando de espalhar pela espada a fé que ele pregava". ( oportuníssima citação de sua -dele- santidade).

domingo, 23 de março de 2008

AGNUS DEI, Delacroix

Aleluia – até a mim me soa a pastor Tadeu – aleluia que hoje há carne sem ter que se pagar bula. Contentes? Fossem vocês o cordeiro e sentir-se-iam mexilhão entalado entre o mar e a rocha. Mas isso é lá problema dele que promovido a agnus dei tem o privilégio de simbolizar Aquele que, por amor, se fez sacrificar libertando-nos do pecado original!

E porquê o Borrego? Sei lá! Desde os tempos em que Moisés teve que dar cabo das 12 tábuas, que afinal eram de pedra, por causa de um bezerro doirado, ao bovino restou a personificação de Lucas e viv'ó velho.

O que resta? Cavalo, era uma nobre raridade e camelo demasiado rijo; bicho de bico raridade de menos e ainda menor nobreza; porco... talvez fosse antecipar sarrabulha à Herodes.

Olhem calhou ao o borrego fazer de mexilhão e prontos.

Bon a petit, ou seja: bom é o pequenino (três meses)


Ensopado de Borrego (d’aqui)

Ingredientes:
Para 8 pessoas

2 kg de carne de borrego (costeletas e sela) ;
500 g de cebolas ;
2 colheres de sopa de farinha ;
200 g de banha ;
5 dentes de alho ;
1 folha de louro ;
1 colher de sopa de pimenta em grão ;
1 colher de sobremesa de colorau doce ;
1 ponta de malagueta ;
1 kg de pão caseiro ou de segunda ;
sal
Confecção:

Corta-se a carne em bocados, que se passam pela farinha. Retiram-se 3 colheres de sopa de banha e aquece-se a restante num tacho de barro. Introduz-se a carne neste tacho e deixa-se alourar.
À parte, noutro tacho de barro, faz-se um refogado com a restante banha, as cebolas cortadas ás rodelas, os dentes de alho cortados, o louro e a pimenta em grão.

Na altura de servir, tem-se o pão cortado em fatias numa terrina, sobre a qual se deita o caldo do ensopado depois dos temperos rectificados.
A carne serve-se à parte numa travessa mas ao mesmo tempo.

quinta-feira, 20 de março de 2008

A nação do estado

As bifas tardam em chegar tal como as andorinhas, mas agora é que vai ser. As Caramelitas, nostras hermanas, já começaram a arribar!
É uma alegria vê-las a chilrear, Rossio acima mirando os nossos atoalhados, impropriamente chamados de turcos!
Não fora o carpir arrependido de Pedro e outro galo cantaria mais de três vezes, mas a moinha caldosa resolveu instalar-se, penitente, para melhor se celebrar a Paixão, o que não permitirá certamente contemplar as hermosas espaldas das niñas, Chicas ou Consuelos.
Numa tentativa de adaptação metereológica fiz-lhes a espera lá para os lados d'El Corte Ingles, isso, aí mesmo ao lado do laureado Parque D. Edardo VII, que magnífica vista nos proporciona até bandas de além Tejo.
Para que não aflorem ideias iberistas, o digno alcaide D. António Costa, caudilho da nossa mui nobre urbe, solenemente faz assinalar a nossa soberania com gigantesca bandeira nacional que, em ocasiões solenes, tanto arrepio pela espinha nos causa, como por exemplo as cantatas do hino em jogos da nossa "selecção nacional de raiguebêtas".
Pois então!
É este o estado da Nação
Boa Páscoa a todos

segunda-feira, 17 de março de 2008

Crónica Atribulada do Esperançoso Fagundes

Na primeira pessoa:

Nascemos em 1996. Estreámos a nossa primeira peça em Maio de 1997. Produzimos, desde então, peças de autores como Eugène Ionesco, Alice Vieira, Bertold Brecht, Gil Vicente, Augusto Boal, Plauto, António Gedeão, e agora Luís de Sttau Monteiro. Continuamos a contar contigo, caro espectador. Sem ti o Teatro nunca acontecerá. Na prática, acabas por ser o único verdadeiro VIP neste planeta (só que este estatuto não te dá nem soldos e cruzados. És tuNascemos em 1996. Estreámos a nossa primeira peça em Maio de 1997. Produzimos, desde então, peças de autores como Eugène Ionesco, Alice Vieira, Bertold Brecht, Gil Vicente, Augusto Boal, Plauto, António Gedeão, e agora Luís de Sttau Monteiro. Continuamos a contar contigo, caro espectador. Sem o pagante… Mas isso é outra questão) Um abraço do tamanho do Universo Teatro do Rio.

Na minha pessoa:

São quase bons, se lhes pedissem meças não davam Barraca, é um Teatro à maneira desComunal, sem pretenciosismos Cornucópianos. Soubessem eles divulgar-se (melhor) e poupavam esta trabalhêra mas a minha opinião vale o que vale. Atrevam-se a vir vê-los, que:

O Luís Paulo é um caso sério, A Ana Penas uma pena não lhe darem asas para voos mais largos, o José Geraldo a prometer (estreia-se aos 11 anos, a Nádia Penas filha de peixes nad(i)a em qualquer estilo, o João Campaniço um monstro que vai de quasi-modo ao que lhe pedirem, a Ju Soares uma surpreendente feiticeira, a Ana Rita um presente e Adelino Lopes a alma pater.

Ah!

Em Alcácer do Sal, dia 27, Quinta-feira. (Auditório Municipal)

Em Stº André, dia 29, Sábado.


PROGRAMA
da
CRÓNICA ATRIBULADA DO ESPERANÇOSO FAGUNDES


Escrita em 1979, é uma sátira de algumas fases cruciais da história de Portugal. A partir de três dos grandes momentos de ruptura – ditas “revoluções” – Sttau Monteiro coloca, num registo sarcástico, irónico e divertido, o que é, a seu ver, um dos grandes problemas de sempre deste país (e não só): mudam-se os velhos poderes, mas tudo fica na mesma.
O texto recua até às vésperas da Revolução de 1383, que coloca no trono D. João I, avança depois até à Revolução de 1820, onde os vintistas acabam com a monarquia absoluta, e passa pela revolução Republicana, procurando sempre estabelecer paralelismos entre estes momentos e a história recente do Portugal do pós-25 de Abril de 74.
Desbragado, desbocado, descarado, divertido e, sobretudo… implacável para com os poderes instituídos, de promessas sempre prometidas e nunca cumpridas!

do autor


Luís de Sttau Monteiro (1926-1993)
Nasceu em Lisboa, em 3 de Abril de 1926. Aos 13 anos foi viver para Londres, onde o seu pai desempenhava as funções de embaixador. O tempo que aí passou terá condicionado muitos aspectos da sua formação estética e literária. Nesses anos, viveu de perto a tragédia da Segunda Guerra Mundial. De regresso a Portugal, licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa, tendo exercido, por um breve período de tempo, a advocacia. Publicou o seu primeiro romance em 1960, Um Homem Não Chora. Em 1961, publica-se Angústia para o jantar, que o colocou, desde logo, num lugar de relevo no panorama da literatura portuguesa. Desse mesmo ano é também a peça Felizmente Há Luar!, que revelou um dos mais notáveis dramaturgos das nossas letras. Foi-lhe atribuído, em 1962, o “Grande Prémio de Teatro”. Por várias vezes, foi preso pela PIDE, devido ao cunho irreverente que impôs à sua obra. Fez parte do conselho redactorial de “A Mosca”, suplemento do Diário de Lisboa, onde se celebrizou pela criação da irreverente figura da Guidinha. Foi jornalista e colaborador regular de várias publicações - Diário de Lisboa, Se7e, O Jornal, Expresso. Principais obras do autor: Um Homem Não Chora, 1960 Angústia para o Jantar, 1961 Felizmente Há Luar!, 1961 Todos os Anos, pela Primavera, 1963 O Barão, 1964 Auto da Barca do Motor Fora de Borda, 1966 A Guerra Santa, 1967 A Estátua, 1967 As Mãos de Abraão Zacut, 1968 Sua Excelência, 1971 E se For Rapariga Chama-se Custódia, 1978 Crónica Atribulada do Esperançoso Fagundes, 1980 Chuva na Areia, 1982, adaptação televisiva de um romance que ficou inédito, Agarra o Verão, Guida, Agarra o Verão

FICHA TÉCNICA


encenação, adaptação e espaço cénico
Adelino Lopes

interpretação
(por ordem de entrada em cena)
Luís Paulo, Ana Penas,
José Geraldo, Nádia Penas,
João Campaniço, Ju Soares
Ana Rita, Adelino Lopes
supervisão técnica
João Campaniço
operador de luminotecnia
Carlos Pedro
operador de som
Rui Araújo
coordenação de adereços
Ana Rita
figurinos/guarda-roupa
criação colectiva
colaboração/agradecimentos
Estúdios VR (Vítor Rosa)
João Núncio (guitarra)
Manuel Jorge Pedro (apoio musical)
Paula, Silvestre e Rute (Rádio Mirasado) Joaquim Maurício

Eu pecador me confesso




Os novos sete pecados mortais, segundo o Vaticano:
1. Manipulação genética;
Não é comigo. Quanto muito genital.

2. Experiências científicas em cobaias humanas;
Comigo não deve ser. Se o brincar aos médicos com as meninas na escola porventura aí se enquadrassem, provavelmente, isso já prescreveu.

3. Poluição do meio ambiente;
Será comigo? O derreter de umas cigarrilhas e ocasionalmente de um charutito terão a favor o uso do GPL, espero.

4. Causar injustiça social;
Comigo nã é. Trabalhando por conta de outrem…

5. Causar pobreza;
Aqui tenho dúvidas. A consciência acusa de a auto-inflingir.


6. Enriquecimento obsceno;
Dá para rir! Não é por nada mas lido muito mal com o termo obscenidade. Em geral sou a ela míope.


7. Tomar drogas.
Só das leves: Café, do bom Dão ou alentejano, aspirinas, por vezes “guronsan”.


A espectativa é boa, não há lugar para mais niguém; partilhar o céu com a maria-arvore que detem os outros 50%,

vai ser uma felicidade eterna, só espero que ela não ponha uma almofada a dividi-lo ao meio.

d'aqui

domingo, 16 de março de 2008

A pont-a-pé

Dizem uns que a culpa é da parteira, alcoólica inveterada, ter-me-á lançado tal bafo à nascença que fiquei para sempre assim. Dizem outros que não, assim sou porque Deus assim quis. Está bem pronto, por uma ou pela outra razão, por uma terceira talvez até, o certo é que vivo atarantado sem saber se hei-de cagar ou ir dar corda ao relógio.

Vou-me no entanto orientando pela sensatez desta ou daquele, como a Marie-Baum ou a Hipatia-Gaivina (que ainda hoje os meus neurónios confundem) orientando-me dizia eu, quando mesmo assim não me confundem elas mesmas, isto a propósito de se insurgirem contra a possível proibição de piercings e tatuagens!

Sendo umas pombinhas porreiras, não escapam à fiabilidade da natureza humana pelo que, neste caso, deram passo mais longo que a perna que as levou a uma “espargata” monumental da qual dificilmente sairão. Correm o risco de ficarem com os glúteos –que eu efabulo de apetecíveis- colados ao chão por tempo gerúndio ou continuado.

Não vêem aquelas alminhas que o Sr Zé vela pelo bem nosso? Não lhes entra na cabecinha, por qualquer parte dos corpinhos, que o seu mau feitio de calvinistas contestárias, em desacerto com a ordem luterana, não lhes traz outra felicidade senão o gozo efémero do trautear de um estafado cântico negro, regiano?

O sô Zé nã diz basta de piercings onde nervo, musculo ou zona herógena pulule, por capricho ou necessidade de afirmação de poder. Não porá cobro a grafittis corporais por fúteis razões ou discordância do seu valor estético. Os considerandos que suportam a futura limitação, do liberal uso dos nossos corpos, estão enunciados:
PRESERVAR A SAÚDE e ponto, não final.

Reconsiderem, afinal, que pelo meio de: défices orçamentais, juros, recessões, desempregos, desacelerações da economia, alkaedas e doutas indignações na rua, se o nosso querido e estimado líder, camarada Zé concede a sua atenção ao arame na língua e à tinta da china na pele, é porque elevadas razões, ainda que ininteligíveis para nós, se agigantam.
Abençoado povo que tem o condutor que merece.


Bom o tempo ruge e já vai longo, é altura de fazer a trouxa e zarpar, mas deixem que antes vos diga que me contorço de gozo ao imaginar a vossa cara quando souberem que a maratona de hoje é a ultima. Se nunca a fizeram... paciência, perderam a vossa oportunidade pois razões de saúde -e de estado- a partir de agora correr só será permitido a profissionais.
Porquê?
Porque a cada passada as articulações ficam sujeitas a esforços inimagináveis. Sabem quantas tendinites, contusões na coluna, e rotulas terão ido para o caralho quando tiver terminado a corrida? Não sabem, né? Bué delas.
Nunca tinham pensado nisso, né?

E quem paga o concerto disso tudo? Ah pois! O Serviço, gratuito, Nacional de Saúde. Certo?

sexta-feira, 14 de março de 2008

como eu para aqui

Estava para ali, como eu para aqui, sem saber o que fazer.
O relógio lá da parede, entalado entre a equipa do glorioso e do Atlético local, assinalou com o atraso devido as dez horas. Pediu uma rodada, o Cebola voltou a encher os dois copos.
-Disse uma rodada, e apontou-lhe para o peito.
O Cebola riu lembrando-lhe: Sabes que nunca bebo em serviço -manias que lhe ficaram da polícia- pensou resignado, mas o espanto foi vê-lo sacar de um copo e "enchê-lo" por meio.
Ergueu o copo com o tradicional à nossa, o Cebola mindinho espetado retorquiu: e aos ausentes, o velho anuiu –isso.
São assim de poucas falas e afectos ocultos, os homens da terra que os viu parir. Eu de longe, como que planando, confesso que os invejo, sobretudo porque parece que não invejam ninguém. Penso se não serão uns resignados…
Com um até atirado para o meio dos dois rumou a porta, antes de mergulhar na luz ainda apanhou: -Logo, depois de fechar, tenho uma cabeça de borrego.

Nós que a terra tece!

quarta-feira, 12 de março de 2008

Elementar, caro Watson


- Doi-me o peito Doutora. Será do cansaço? Do Bagaço?
- Outra vez? Já lhe dei uma data de remédios. Pronto, tome agora lá este.
- E vai fazer-me bem?
- Francamente não sei, pode até provocar-lhe um certo mal-estar, efeitos secundários, sabe o que é isso não é.
- Sei doutora, a senhora é que não sabe, ou não pode, ou não quer (?) fazer o diagnóstico correcto, né?
- Bem…
- Se calhar é melhor analisar melhor a situação doutora.
- Oh homem! A doutora sou eu, e a bem da ciência da educação, digo, da saúde as cobaias são sempre necessárias.
- Mas doutora, os efeitos secundários, sou eu que levo em cima né?
- Você é que sabe, mas olhe que corre o risco de, de…
- De quê doutora?
- De o retirar da lista dos bons pacientes. É isso que quer, veja lá bem.
Depois não se queixe, não vejo alternativas, e mais não digo.
***
Dr.
dói-me o peito
do cigarro
do bagaço
do catarro
do cansaço
dói-me o peito
do caminho
de ida e volta
do meu quarto à oficina
sem parar
sempre a andar
sempre a dar
dói-me o peito
destes anos
tantos anos
de trabalho e combustão
dói-me o luxo
dói-me os fatos
dói-me os filhos
dói-me o carro
de quem pode
e eu a pé
sempre a pé
dói-me a esperança
dói-me a espera
pelo aumento
pela reforma
pelo transporte
pela vida e pela morte.

Dr.
já estou farto
de não ser
mais que um braço
para alugar
foi-se a força
e o meu corpo
é como o mosto pisado
como um pássaro insultado
por não poder mais voar.

Dr.
eu não sei ler
os caminhos
por dentro
dos hospitais
mas alguém há-de aprender
entre as rugas do meu rosto
o que não vem nos jornais
e não há nada no mundo
nem discurso
nem cartaz
capaz de gritar mais alto
que as palmas das minhas mãos
que o meu sorriso sem jeito,
Dr.
Dói-me o peito…

José Fanha, Eu sou Português aqui, ed. Ulmeiro

segunda-feira, 10 de março de 2008

A terra

Voltei sem muito entusiasmo à terra que me pariu, não me puxava para aí a ideia, parecia que as adivinhava. À primeira impressão estava tudo conforme a deixara: ruas vazias, o mesmo canito de rabo entre as pernas, lombo arqueado e olhando sobre a espádua, atravessava em diagonal um cruzamento frente à viatura da guarda em velocidade e faróis mínimos; eram dez e meia mal dadas, e o camião de rações que me dera boleia, seguiu após a eloquente despedida a condizer com a eloquência da viagem. Do motorista ficará a memória da destreza com que manipulava o palito entre os dentes.
Dei a volta à tranca de madeira, aliviei a porta dos gonzos sem evitar que roçasse o chão; fiquei parado por momentos e entrei tranquilo ao ouvir o ronco do velho; a dois passos o bafo a vinho garantiu-me que só na manhã seguinte teria de responder às perguntas que ele não faria. Enrolei-me nos fios que restavam do cobertor enrodilhado ao pé da cama e deitei-me na ponta que não estava manca, amanhã se não a consertar dou-lhe a volta, pensei e assim me fiquei.

Via o palito a bailar estranhamente na minha boca, cuspia-o e o teimoso voltava, abri um olho e dei com o rabo do rebaptizado Plantão que Platão não vingara. Nem foi preciso enxota-lo, foi-se dando ao cu.
O cheiro a café de saco indicava que o velho já se pusera a pé, soergui-me e não me admirei de o não ver, espreitei pelo postigo e o quintal vazio e a porta da cagadeira aberta davam para concluir que abalara. Uma xícara de café e um canto de pão com linguiça depois, fiz-me à vila, desculpem, à cidade pois atão!
Rumei ao café do Eusébio desviando caminho pela tasca do Cebola. Lá estava o velho a três quartos no balcão enfiado no capote. Um olhar para mim, outro pó Cebola, um trejeito de cabeça e lá tinha eu que me haver com um copo de três. Pronto, estava de volta, pó velho nem sequer chegara a abalar.

Pousei os braços no balcão, olhei-o. O velho está porreiro: a mesma barba por fazer, a mesma boca teimosa, os olhos, os olhos... um pouco mais pequenos, talvez.

domingo, 9 de março de 2008

Olá. Ist’assim nã dá, olé.

Vivo de desilusão em desapontamento até ao final julgamento. Se já estava pelos poucos cabelos que me restam, imaginem como estarei agora que voltei quando deixei terras lusa feitas num caco para a reencontrar feita numa caca. Mal tirei o pé de Badajoz, teso como carapau, e com ele mal assente em Elvas, assalapou-se-me uma esquizofrenia que outros teimam em chamar-lhe esquisoide; o certo é que o canto de sereias das novas oportunidades, pelo primeiro ar que me dava nas ventas, abalou-me o dedão, subiu, foi subindo e instalou-se na virilha. Para trás estavam cinco meses de maior insusexo. Afinal Madrid não é o que contam! Não nego que nossas hermanas transpirem mucho salero –e não só– admito ainda que sejam muy guapas, –algumas– mas porra, aquilo é uma ilusão; tirando o chêro um pouco pó mais doce, a merda é igual: um gajo entra no elevador e a reacção a uma tentativa da menor sociabilização, encostam a pêda ao espelho, abraçam a mala junto ás mamas e põe o olhar no tecto.

Bom, adiante, não vos prendo com pormenores da viaje até Lisboa. Sem ideias preconcebidas, instalado na Suiça, resolvi dar por bem empregue os pouquitos €s que me sobravam: -Uma bica cheia por favor. Saco do Destak e, de olho na página, olho no passeio, armado de paciência lá vou vendo as pombinhas passar. O Rossio já foi chão que deu uvas ou então a porra do efeito de estufa deu cabo desta merda da primavera. Bifas nem vê-las! Se calhar é da recessão… mas então! Esta merda tá mesmo mudada, querm lá ver?
Por volta das duas o metro começa a despejar gajas e gajos vestidos de preto que se vão ajuntando. Há de tudo! Aquilo ia do marisco á bifana, não era dos 8 aos 80, mas garanto-vos que dos dezoito aos sessenta devia ser e se erro não será por muito. Há medida que se arrebanhavam começaram com missa cantada:
TÁ NA HORA TÁ NA HORA… fez-se-me luz, tínhamos manif. Ah a saudade! Aquilo bateu-me cá duma maneira! Mas as manif's já não são o que eram. Bons tempos em qu'um gajo dava o tempo e dor de pés por bem empregues: as amigas que fiz, o que aprendi, o calor humano, a comunhão de intenções e de gostos… Inda tenho lá para casa um porta chaves com uma estrela que me deu uma ruivita beijoqueira que se pudesse -e eu corresponedesse- dava mais quecas numa semana do que sardas tinha na cara. Bons tempos!
Adiante, tinha a abertura de caça à pombinha estragada, é o que era. Uma manif e ainda por cima mal organizada, mas prontos, não admira pelas conversas, aquilo era coisa de professores e a gente já sabe do qu’é quesses malandros são capazes, né?
Afinal… Afinal, a modos qu’a coisa não era bem assim. O metro não parava de arrotar gajos! Uns de rabo de cavalo, outras sei lá de quê e o TÁ NA HORA TÁ NA HORA não parava. Três e picos, ai jajus, aí vinham eles! Porra não vos conto que já vos enfiei tantas galgas que vocês vão pensar que é mais uma, mas vá lá, imaginem uma catrefada de gente, isso, ponham lá mais uns quantos e nã chega, ponham lá mais dez vezes mais uns quanto e nã chega.
Olha fui atrás dos gajos, pó qu’havia de me dar. Puz cara d’índignação, qu’eu nã sou lorpa, e s’olhassem pa mim de lado dizia qu’era professor de trabalhos manuais em Montemor. – O velho? Mas eu sou de lá!!! –Nã do Novo do NOVO, porra.

Bem, lá fui eu. O Terreiro do Paço já tava composto sim senhor, até já mandavam bocas de que eram 80000, também não era preciso exagerar, né? Pelo andar da carruagem isto não acaba sem anunciarem que são cem mil, mordi eu p’ós meus botanitos, salvo seja, que o casaco tem fecho.

Olhem desculpem lá tá a dar-me a sonêra e o papo já vai longo.
Pode ser qu’eu volte ao assunto se entretanto nã abalar pa Copenhague e nã me faltar a tesão.

sábado, 8 de março de 2008

Os feios porcos e maus

Cada vez que se metem professores pelo meio… andamos às turras, e eu gosto tanto dela e ela de mim!

Dão muita jêto, não porque me permitam brilhar mas… vejamos:
Dos 100000 aquilo era tudo bom os que não eram ficaram em casa. Dava muita jêto, não dava?
Quantos calaceirões não andaram avenida abaixo com o ESTÁ NA HORA, ESTÁ NA HORA na boca? E desses quantos não terão sido reconhecidos ali mesmo na rua, ou nas fotos que dispararam por aí? Tou mesmo a ouvir: -Olha, olha aquele malandro que passava a vida de atestado só porque a mana é médica no Santa Maria. Cambada de malandros vão mas é pá estiva. Fosse eu ministro da educação e esses apontados a dedo não iam pá rua, pelo menos, enquanto a avaliação não estivesse toda encaixada nalgas acima, óbvio não é?E de quem é a culpa? Sem cinismo; dos prof’s. E porquê?

  • Porque têm a mania de dizer que dão aulas, armados em beneméritos, quando as vendem (e caras na opinião de muita gente), é verdade que o custo hora é “ligeiramente” mais baixo do que o de um mecânico, mas justifica-se pois um suja as mãos de óleo e os prof´s, bah! Pó de giz e já se queixam de alergias;
  • Porque se gabavam, os mentirosos, de trabalhar 22 horas por semana escamoteando as reuniões, preparação de aulas, correcção de testes, planificações, preparação de actividades extracurriculares e abstenho-me do etc. porque ficava mal visto;
  • Porque passam a vida vangloriando-se –Hoje não dei aulas, fui a uma visita de estudo; Note-se que se fartou de gozar: andou quase à galheta com os pintas que queriam palmar um telélé ao Rui, mamou Cheese Burger porque os putos acham que no Mc é qu'é fixe, foi à farmácia comprar "Alkaselsa" porque houve qualquer coisa que lhe caiu mal no "estomágo" e ainda poude apreciar o Jerónimos mais um tempito porque a Rute foi ali.
  • Porque aquilo é um forró, dia da arvore, do pai e da mãe, quando não andam atrás de putos bexigosos e de aparelho nos dentes a organizar o baile dos finalista, o pedypaper ou o rugby na lama.
  • Porque aquilo é uma calhandrisse pegada entrando na vida das famílias a querer saber porque é que a gorda se ameaça matar, o matulão deu na passa e o preto agora até já na preta bateu.
  • Porque ostentam computadores portáteis, abrilhantam gandas máquinas a gasoil fazendo 80 Kms pa ir trabalhar, por vezes por horários incompletos, só de ricos!
  • Porque refilam se a minha tia lhes entra casa alugada adentro quando quer ir estender roupa ao sótão;


Porque, porque e porque.


Pois é estavam mal habituados:
Era a treta da soberania e autoridade na aula. Agora? Chapadão nas ventas e por muitos que putos e familiares em primeiro, segundo e terceiro grau lhes afinfem, ainda fica muita palmatoada e canada por ajustar, afinal aquelas que todos nós carregamos nos genes, desde a cartilha maternal, e é para não ir mais longe.
Coitadinhos! Trabalham uma horita, vá lá, hora e "meiíta" e descansam cinco minutos ás vezes dez até.
Tadinhos! Aquilo é tudo gente frágil, se têm mais de vinte alunos na aula… -Ai Jesus, aqui del-Rei, já não aguento mais da cabeça.


Olhem, sabem que mais? Porque, no caso do meu primo, é parvo (estúpido, não tem nada a ver com o latino parvus, parva, parvum=pequeno) parvo mesmo porque se podia ter reformado aos 57 e com a mania de que estava bom para as curvas, não contou quatro anos que trabalhou no ultramar.


BEM FEITO
VAI GOZAR, GOZAR, GOZAR A BOA VIDA DE PROFSSOR ATÉ 2012