segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Saúde.


Congratulo-me com a medida, todas as que sejam tomadas para colmatar a carência da prestação dos cuidados de saúde constitucionalmente prestados,

[Artigo 64.º(Saúde)1. Todos têm direito à protecção da saúde e o dever de a defender e promover.2. O direito à protecção da saúde é realizado:a) Através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito]

são bem vindas.

Interrogo-me: não temos capacidade para formar mais médicos, ou não temos candidatos à altura das exigências das faculdades de medicina com perfil?

É sabido que muitas famílias recorrem a Espanha para que os seus filhotes, excluídos do ensino médico em Portugal, realizem os seus anseios; por outro lado o nosso sistema de ensino investe em cursos que, sabemos de antemão, não terão saída.

Ah, como eu gostaria de compreender coisas aparentemente tão simples.



Saúde (ao vivo) - Pedro Mariano

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

mas o que é que o lête tem a vêri cu as têtas?

Comissão Europeia vai proibir produtos para crianças da China
"A União Europeia vai impor um embargo total aos produtos para crianças provenientes da China considerados como produtos de risco, na sequência do escândalo do leite contaminado chinês, anunciou esta quinta-feira a Comissão Europeia."

Estamos perante uma sansão, né? Ou, "és feio não brinco mais contigo".
É uma lógica do caraças! Bem gostaria de a ver aplicada aos óleos adulterados, provenientes de Espanha, ou ao vinho nacional, a martelo.

Na verdade quatro crianças, até ao momento, já não é pouco; cheguem-lhes sanções a sério e já agora que tal falar de brinquedos e brincadeiras: que tal menos restrições à produção de leite? E que tal criar excedentes para os enviar prós Biafras e Somálias?

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Coro do cornudos - Luis Pacheco por Mário Viegas

Coro dos cornudos - Mario Viegas

Coro de escárnio e lamentação dos cornudos em volta de S.Pedro
Coplas dedicadas às fogosas e vampirescas mulheres daBeira,de quem já Abel Botelho disse o que disse.
Monólogo do primeiro cornudo:
Acordei um triste dia
Com uns cornos bem bonitos
E perguntei à Maria
Porque me pôs os palitos
Jurou por alma da mãe
(Com mil tretas de mulher)
Que era mentira
Tambem,ainda me custava a crer
Fiquei de olho espevitado
Que calado é o mehor
E para não re-ser enganado
Redobrei gozos de amor
Tais canseiras dei ao físico
Tal ardor pus nos abraços
Que caí morto de tísico
Com o sexo em pedaços
Já esperava por isto a magana?
Já previra o que se deu?
Do Além via-a na cama
Com um tipo pior que eu
Vi-o dar ao rabo a valer
Fornicando a preceito
Sabia daquele mistério
Que puxa muito do peito
Foi a hora de me eu rir
Que a vingança tem seus quês
O mais certo é para aqui vir
Ainda antes que passe um mês
Arranjei um bom lugar
Na pensão de Mestre Pedro
Onde todos vão parar
Embora com muito medo
Não passava de uma semana
O meu dito estava escrito
Vítima daquela magana
Pobre tísico,tadito
Dueto dos dois cornudos:
Agora já somos dois
A espreitar de cá de cima
Calados como dois bois
Vendo o que passa na vida
Meteu na cama mais gente
Um,dois,três logo a seguir
Não há piça que a contente
É tudo o que tiver de vir
São Pedro,indignado,pragueja:
É demais,arre diabo-berra S.Pedro,sandeu-
E mortos por dar ao rabo,lá vêm eles p'ró ceu...
Coro,pianíssimo,lirismo nas vozes:
Quem morre como um anjinho...
Quem morre por muito amar...
Coro,agora narrativo ou explicativo:
Já formamos um ranchinho,de cá de cima a espreitar
Aparte do autor das coplas:-coitadinhos
Passam meses,passa tempo e a bela não se consola
Já somos um regimento como esses que vão para a Angola
Fazemos apostas lindas sempre que vem cara nova
Cálculos,medidas infindas,como ela terá a cova!
Há quem diga que por si já não lhe tocou o fundo
Outros juram que era assim do tamanho deste mundo
Parecia uma piscina!-diz um do lado,espantado-
Nunca vi uma menina num estado tão desgraçado
(Aparte do autor,antigo militante das esquerdas baixas)
Num estado tão desgraçado,parece-me ouvir o povo
Chorando seu triste fado nas garras do Estado Novo
O ultimo que cegou cá morreu que nem um patego
Afogado e era mar nos abismos daquele pêgo
O coro dos cornudos acompanhado por S.Pedro em
surdina,entoa a moralidade,após ter limpado as últimas
lagrimetas e suspirado como só os cornudos sabem:ahh!
Mulher não queiras sabida
Nem com vício desusado
Que podes perder a vida
Na estafa de dar ao rabo
Escolhe donzela discreta
Com os três no seu lugar
Examina-lhe bem a greta
Não te vá ela enganar
E depois de lhe veres o bicho
E as mamadeiras que tem
A funcionar a capricho
Já sabes se te convem
Mulher calma,é estima-la
Como a santa no altar
Cabra doida,é rifa-la
Que não venhas cá parar
Este conselho te dão
E não te levam dinheiro
Os cornudos que aqui estão
Com São Pedro hospitaleiro
Invejosos,quase todos
Dos cornos que o mundo guarda
Fazem mais um bocado de lamentação
(Nota do autor-quase,porque,entretanto alguns brincavam uns com os
outros.Rabolices...
Mas se fornicas a rodos tua vida aqui não tarda
Recomeça a moralidade,estilo 'estão verdes,não prestam'
Alguns bêbedos,cornudos despeitados ou
amargurados,vozes pastosas (deve ler-se vinho...velhinho)
Melhor que a mulher é o vinho
Que faz esquecer a mulher
Que faz do amor já velhinho
Ressurgir de novo o prazer
Finale muito católico
Assim termina o lamento
Pois recordar é sofrer
A mãe fode
É bom sustento
E por nós reza o pater
Luiz Pacheco,num dia em que se achou mais pachorrento.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

PEIXEIRADA


Farsa trágico-cómica.
Peça em muitos actos (ainda não se sabe quantos)
Personagens:
Isabel Soares,
chefe de gabinete do vice-presidente da Câmara de Lisboa,
ex-presidente da Gebalis, empresa municipal que gere a habitação social de Lisboa.
dr. José Bastos
director do departamento de apoio aos órgãos do município,
tenta comprar casa da câmara em boas condições (a defenir o que são boas condições).
Ana Sara Brito,
actual vereadora da Habitação e Acção Social,
ex-Presidente de Freguesias
António Costa
Chefe de autarquia, sub-chefe de maioria nacional
Comentador telegénico
Ex-corredor da modalidade Porsch vs Burro
Santana Lopes:
Ex-primeiro ministro.
Presidente da CML
Presidente de um partido, quase completamente.
irá também ser constituído arguido
Helena Lopes da Costa.
A actual deputada do quase comletamente.
constituída arguida num processo de alegado favorecimento na atribuição de habitações
Miguel Almeida,
também deputado do tal partido
também constituído arguido
Manuela Ferreira Leite,
Presidente do completamente partido,
testemunha de um dos arguidos no caso,
Margarida Sousa Uva,
mulher de presidente emigrado
testemunha arrolada.
Miguel Relvas
misteriosa figura
Marco Almeida,
vice-presidente da autarquia Sintrense.
Sinopse:
Zangam-se as comadres e não se descobrem as verdades, talqualmente.
Helena é acossada arrastando consigo para a rua, enlameada, das amarguras: Pedro, e Miguel.
Ficará isto assim? Não! Põe a boca no trombone e… das brumas surge...
Isabel, que tem uma casa atribuída pela autarquia há 18 anos, já não vive nela; na casa está agora o seu filho. Isabel tenta adquirir a casa, a um preço abaixo do valor de mercado. O processo acaba por ser aprovado, a data da escritura marcada, mas... o processo esbarrara na vereadora Helena, que tinha o pelouro da Habitação Social, e que acaba por remeter o assunto, juntamente com um outro – o do dr. Bastos -, para o gabinete do, na altura, presidente Santana.
Entram em cena com sus trajes andaluces, e peruquerias: Manela, Pedro e muitos outros…
O resto são tretas?


tourada - Fernando Tordo

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Tu me quieres blanca

Tu me Quieres Blanca - João Villaret

TU ME QUIERES alba,
Me quieres de espumas,
Me quieres de nácar.
Que sea azucena
Sobre todas, casta.
De perfume tenue.
Corola cerrada

Ni un rayo de luna
Filtrado me haya.
Ni una Margarita
Se diga mi hermana.
Tú me quieres nívea,
Tú me quieres blanca,
Tú me quieres alba.

Tú que hubiste todas
Las copas a mano,
De frutos y mieles
Los labios morados.
Tú que en el banquete
Cubierto de pámpanos
Dejaste las carnes
Festejando a Baco.
Tú que en los jardines
Negros del Engaño
Vestido de rojo
Corriste al Estrago.

Tú que el esqueleto
Conservas intacto
No sé todavia
Por cuáles milagros,
Me pretendes blanca
(Dios te lo perdone),
Me pretendes casta
(Dios te lo perdone),
¡Me pretendes alba!

Huye hacia los bosques,
Vete a la montaña;
Límpiate la boca;
Vive en las cabañas;
Toca con las manos
La tierra mojada;
Alimenta el cuerpo
Con raíz amarga;
Bebe de las rocas;
Duerme sobre escarcha;
Renueva tejidos
Con salitre y agua;
Habla con los pájaros
Y lévate al alba.
Y cuando las carnes
Te sean tornadas,
Y cuando hayas puesto
En ellas el alma
Que por las alcobas
Se quedó enredada,
Entonces, buen hombre,
Preténdeme blanca,
Preténdeme nívea,
Preténdeme casta.


E já agora, mais casta e mais fiel... ao texto Perdi-o mas encontrei este.



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domingo, 21 de setembro de 2008

Vai à merda... senão vou eu.

Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa

Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).
Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
E' estar ao lado da escala social,
E' não ser adaptável às normas da vida,
'As normas reais ou sentimentais da vida -
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas,
E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.

Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-se com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se ha uma razão exterior a ela?

Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
E' ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
E' ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.

Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki.
Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.

Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.

Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lagrimas (autenticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha olhos tristes por profissão

Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!

E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.

Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!

Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.

Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!

Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.

Alvaro de Campos

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Barrocas IV


Menina esperando faz parar o tempo.

Surgiram por fim; direitos à aventura de muitas de umas férias promissoras, pulando degrau a degrau para alcançarem mais abaixo a vereda encravada entre morros e o vazio orlado por capim.
Deu-lhes o avanço necessário para não “levar uma corrida” e afoitou-se. O peito apertava-se, finalmente podia penetrar no mundo proibido, e se achava que o cenário correspondia às descrições, achava também que uma grande dose de exagero havia no que dizia respeito aos perigos narrados. Procurava reter cada pormenor, guardava a miscelânea de sensações que a assaltavam: cores, sons e cheiros; pela certa que ali não voltaria.
O caminho ao princípio largo e de acentuado declive, tornava-se mais plano e estreito.Reconheceu o começo da Tundavala, nome roubado pelos rapazes para se referirem à estreita garganta que rasgava o morro que como um rio começava estreita e, serpenteando, se ia alargando e afundando. O caminho estreitava cada vez mais e ela cada vez mais se cozia à parede do morro, pernas tremendo. De repente estacou. O caminho, cada vez mais estreito, desaparecia numa curva apertada, como que suspenso no ar. Sentou-se, sentido o coração crescer no peito, olhou para trás e reprimiu as lágrimas juntando coragem para fazer o caminho de volta.
Algum tempo passou porque sentiu o sol queimar-lhe o corpo. Tomou coragem, levantou-se, deu dois passos de volta e quando pressentiu um movimento na suas costas; voltou-se aterrorizada e… viu o Pirolito correndo na sua direcção. O rosto iluminou-se-lhe de alegria, o canito endiabrado atirava-se-lhe às pernas, ladrava aflito, fugia por onde tinha vindo e voltava ao mesmo. Percebeu que queria que o seguisse. Venceu a curva temida coladinha à parede do morro, juntou forças para ultrapassar uns degraus escavados na terra, observada pelo Pirolito como que a incentivá-la, e viu-o partir de novo correndo.
-Pirolito, gritou, anda cá já –mas ele nada.
-Pirolito!!!
Pareceu-lhe ouvir gritarem: -Ajuda-me… Pôs o ouvido à escuta: -Ajuda-me, ajuda-me… Correu caminho abaixo sem querer saber se era largo ou estreito, deparou com Alfredo, suspenso sobre a ravina,, agarrado ao capim, o Pirolito mordendo-lhe os cabelos. Correu para eles, sentou-se no chão, deu-lhe uma mão e puxou, puxou…

O tempo, sabe ela hoje, não pára.


Marmelada - Duo Ouro Negro

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Assim vai o mundo

Menezes quer debate com Marcelo
Pois bem, é justo. E já agora eu também quero um... com Flor Pedroso.

Menezes diz que Marcelo "atirou o poder pela varanda" quando foi líder.
É grave! Toda a gente sabe que o seu apartamento não tem varandas.

"todos aqueles que achem que têm ideias e propostas, devem veiculá-las".
E os que não as têm também, o sol quando nasce é para todos.

Mendes lança dia 25, em Lisboa, o livro Mudar de Vida.
Onde provávelmente irá anunciar o pedido de aposentação.

E já agora, um momento de má disposição:

domingo, 14 de setembro de 2008

Aguadeiro

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08 Faixa 8.wma -

Truncado

(...) Quando eu morrer e for chegando ao cemitério, Acima da rampa,
Mandem um coveiro sério
Verificar, campa por campa
(Mas é batendo devagarinho
Só três pancadas em cada tampa,
E um só coveiro seguro chega),
Se os mortos têm licor de ausência
(Como nas pipas de uma adega
Se bate o tampo, a ver o vinho):
Se os mortos têm licor de ausência
Para bebermos de cova a cova,
Naturalmente, como quem prova
Da lavra da própria paciência. (...)
Vitorino Nemésio

Outro Testamento (poema complet0 )


Save Me.wma - Aimee Mann

You look like a perfect fit
For a girl in need of a tourniquet

But can you save me
Come on and save me
If you could save me
From the ranks of the freaks
Who suspect they could never love anyone

'Cause I can tell
You know what it's like
The long farewell of the hunger strike

But can you save me
Come on and save me
If you could save me
From the ranks of the freaks
Who suspect they could never love anyone

You struck me dumb like radium
Like Peter Pan or Superman

You will come to save me
C'mon and save me
If you could save me
From the ranks of the freaks
Who suspect they could never love anyone
'Cept the freaks
Who suspect they could never love anyone
But the freaks
Who suspect they could never love anyone

C'mon and save me
Why don't you save me
If you could save me
From the ranks of the freaks
Who suspect they could never love anyone

Except the freaks
Who suspect they could never love anyone
Except the freaks who could never love anyone

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Barrocas III


Menina escorraçada é pior que gaivota em terra.

Olho seco viu-os afastarem-se com a jura quebrada. Por uns momentos sentiu prazer em ver o coxear de Alfredo mas a recordação do seu braço sobre os seus ombros enquanto partilhavam a leitura do Kit Carson, fê-la sentir miserável. Eles afastando-se e ela mais miserável, sem saber se era do abandono se era do raio do braço.
Decidiu-se; apanhou as saias e torneou em corrida o campo da bola, não ligou ao –Xi minina, onde vais a corêr’assim? – lançado por Dona Mariquinhas, quando lhe atravessou o quintal ganhando vantagem quer na distancia, quer à perna marota de Alfredo; continuou a corrida desenfreada e só abrandou o paço quando avistou a estrada do Cacuaco. Dissimulou-se entre os montes de entulho e algum lixo e dispôs-se a esperar; um olho na orla de cubatas do outro lado da estrada, outro nos degraus ciclópicos que supostamente deveriam atenuar os efeitos das próximas chuvadas, -mais tarde se veriam os resultados de tamanha engenharia.
Para além dos degraus os morros estendiam-se em barrocas esculpidas pela água, qual paisagem lunar, para por fim se espraiarem num extenso mar de areia que morria aos pés do porto.
Lá de cima sentia-se no céu contemplando as cicatrizes rompidas na terra vermelha como de carne se tratasse, nas veredas que se perdiam morro abaixo perdiam-se os pensamentos; em cada uma revivia as histórias contadas pelos seus heróis em tardes mornas, às quais acrescentarei o devido ponto, neste conto. O ritual sagrado era marcado pela permanente lata de gasóleo fervendo no meio da fogueira, pelas folhas de jornal enroladas a preceito, ou cigarros, cuidadosamente furtados ao Sr. Silva, circulando de mão em mão. Cada troféu submetido à mira certeira das fisgas ou de chumbos, merecia uma descrição pormenorizada sobre o avistamento quase sempre longínquo, a aproximação pacientemente furtiva, o visar frio, o impacto certeiro, a trajectória da queda, e finalmente a recolha da peça onde Pirolito assumia recorrentemente um papel relevante.
A tocaia estava montada, os manos tardavam a aparecer.


Monangambé - Rui Mingas

Zwei jahre! xaissa, carago


A minha Maria alembrou-me que ando para aqui há dois anos! Dois anos nisto é tão absurdo como duas horas ou uma até.

Descubro o prazer de me enrolar nesta marmelada por vezes interrompida, qual coito.



Brindo-te com esta hora porque, porque... hoje é quarta.


Happy birthday Mr. President. - Marilyn Monroe

HORA ABSURDA

O TEU SILÊNCIO é uma nau com tôdas as velas pandas...
Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso...
E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas
Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraiso...

Meu coração é uma ânfora que cai e que se parte...
O teu silêncio recolhe-o e guarda-o, partido, a um canto...
Minha idéia de ti é um cadáver que o mar traz à praia..., e entanto
Tu és a tela irreal em que erro em côr a minha arte...

Abre tôdas as portas e que o vento varra a idéia
Que temos de que um fumo perfuma de ócio os salões...
Minha alma é uma caverna enchida p'la maré cheia,
E a minha idéia de te sonhar uma caravana de histriões...

Chove ouro baço, mas não no lá-fora...É em mim...Sou a Hora,
E a Hora é de assombros e tôda ela escombros dela...
Na minha atenção há uma viúva pobre que nunca chora...
No meu céu interior nunca houve uma única estrela...

Hoje o céu é pesado como a idéia de nunca chegar a um pôrto...
A chuva miúda é vazia...A Hora sabe a ter sido...
Não haver qualquer coisa como leitos para as naus!...Absorto
Em se alhear de si, teu olhar é uma praga sem sentido...

Tôdas as minhas horas são feitas de jaspe negro,
Minhas ânsias tôdas talhadas num mármore que não há,
Não é alegria nem dor esta dor com que me alegro,
E a minha bondade inversa não é nem boa nem má...

Os feixes dos lictores abriram-se à beira dos caminhos...
Os pendões das vitórias medievais nem chegaram às cruzadas...
Puseram in-fólios úteis entre as pedras das barricadas...
E a erva cresceu nas vias férreas com viços daninhos...

Ah, como esta hora é velha!... E tôdas as naus partiram!
Na praia só um cabo morto e uns restos de vela falam
De longe, das horas do Sul, de onde os nossos sonhos tiram
Aquela angústia de sonhar mais que até para si calam...

O palácio está em ruínas... Dói ver no parque o abandono
Da fonte sem repuxo... Ninguém ergue o olhar da estrada
E sente saudade de si ante aquêle lugar-outono...
Esta paisagem é um manuscrito com a frase mais bela cortada...

A doida partiu todos os candelabros glabros,
Sujou de humano o lago com cartas rasgadas, muitas...
E a minha alma é aquela luz que não mais haverá nos candelabros...
E que querem ao lago aziago minhas ânsias, brisas fortuitas?...

Por que me aflijo e me enfermo?...Deitam-se nuas ao luar
Tôdas as ninfas... Veio o sol e já tinham partido...
O teu silêncio que me embala é a idéia de naufragar,
E a idéia de a tua voz soar a lira dum Apolo fingido...

Já não há caudas de pavões tôdas olhos nos jardins de outrora...
As próprias sombras estão mais tristes...Ainda
Há rastros de vestes de aias (parece) no chão, e ainda chora
Um como que eco de passos pela alamêda que eis finda...

Todos os ocasos fundiram-se na minha alma...
As relvas de todos os prados foram frescas sob meus pés frios...
Secou em teu olhar a idéia de te julgares calma,
E eu ver isso em ti é um pôrto sem navios...

Ergueram-se a um tempo todos os remos...pelo ouro das searas
Passou uma saudade de não serem o mar...Em frente
Ao meu trono de alheamento há gestos com pedras raras...
Minha alma é uma lâmpada que se apagou e ainda está quente...

Ah, e o teu silêncio é um perfil de píncaro ao sol!
Tôdas as princesas sentiram o seio oprimido...
Da última janela do castelo só um girassol
Se vê, e o sonhar que há outros põe brumas no nosso sentido...

Sermos, e não sermos mais!... Ó leões nascidos na jaula!...
Repique de sinos para além, no Outro Vale... Perto?...
Arde o colégio e uma criança ficou fechada na aula...
Por que não há de ser o Norte e Sul?... O que está descoberto?...

E eu deliro... De repente pauso no que penso...Fito-te...
E o teu silêncio é uma cegueira minha...Fito-te e sonho...
Há coisas rubras e cobras no modo como medito-te,
E a tua idéia sabe à lembrança de um sabor de medonho...

Para que não ter por ti desprêzo? Por que não perdê-lo?...
Ah, deixa que eu te ignore...O teu silêncio é um leque ---
Um leque fechado, um leque que aberto seria tão belo, tão belo,
Mas mais belo é não o abrir, para que a Hora não peque...

Gelaram tôdas as mãos cruzadas sôbre todos os peitos....
Murcharam mais flôres do que as que havia no jardim...
O meu amar-te é uma catedral de silêncio eleitos,
E os meus sonhos uma escada sem princípio mas com fim...

Alguém vai entrar pela porta...Sente-se o ar sorrir...
Tecedeiras viúvas gozam as mortalhas de virgens que tecem...
Ah, o teu tédio é uma estátua de uma mulher que há de vir,
O perfume que os crisântemos teriam, se o tivessem...

É preciso destruir o propósito de tôdas as pontes,
Vestir de alheamento as paisagens de tôdas as terras,
Endireitar à fôrça a curva dos horizontes,
E gemer por ter de viver, como um ruído brusco de serras...

Há tão pouca gente que ame as paisagens que não existem!...
Saber que continuará a haver o mesmo mundo amanhã como nos desalegra!...
Que o meu ouvir o teu silêncio não seja nuvens que atristem
O teu sorriso, anjo exilado, e o teu tédio, auréola negra...

Suave, como ter mãe e irmãs, a tarde rica desce...
Não chove já, e o vasto céu é um grande sorriso imperfeito...
A minha consciência de ter consciência de ti é uma prece,
E o meu saber-te a sorrir é uma flor murcha a meu peito...

Ah, se fôssemos duas figuras num longínquo vitral!...
Ah, se fôssemos as duas côres de uma bandeira de glória!...
Estátua acéfala posta a um canto, poeirenta pia batismal,
Pendão de vencidos tendo escrito ao centro êste lema --- Vitória!

O que é que me tortura?... Se até a tua face calma
Só me enche de tédios e de ópios de ócios medonhos...
Não sei...Eu sou um doido que estranha a sua própria alma...
Eu fui amado em efígie num país para além dos sonhos...

Fernando Pessoa 4-7-1913

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Variações sobre um corpo




Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro.
Faz bem só pensar em ver
Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem
(Se ela estivesse deitada)
Dois montinhos que amanhecem
Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco
Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?

Fernando Pessoa


O corpo e que paga - Antonio Variacoes

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Barrocas II

Quem não mordeu a maçã da índia parte desta vida sem conhecer um pouco do céu.

Não tardou muito que Alfredo aparecesse à varanda. Balançou o ramo onde se instalara, o suficiente para se fazer notada. –Hei! –ela nada– -Pauliiinha, tornou ele. Paulinha!!!! -já era coisa merecedora do: –Que é? –Viste o Dudu, o Lélé? –Foram pá Missão. –Cabrões! Oh Victor, os gajos foram pá Missão. –Cabrões, concordou logo o Victor. –E levaram as fisgas, picou ela.
Num foguete já estavam cá em baixo, e ela também. Espingarda de chumbos na mão Victor perseguido por Alfredo, capengando na sua perna marota, passo marcado pelos chumbos embolsados a chocalhar na caixa, eram por sua vez seguidos de perto por Paula. –Vai-t’embora. –Não vou nada, ora essa! Estacaram ameaçadores mas ela,também, ameaçadora disse: -Não foram pá Missão. –Então?! –Não foram. –Então, porra, merda, ENTÃO? –Só digo se puder ir. –Então? –Juras? –Juro. –E tu? –Juro, anda lá, porra… –Foram pás Barrocas. –Pás BARROCAS!? –dise um. –Pás Barrocas não vais disse o outro. –Mas… vocês juraram!!! –Mas não vais, isso é qu’era bom! (e poderia ter acrescentado: ponto final).
Quem jura… mais mente, mas o que ela em mente tinha…


Os Jovens Do Prenda - Lamento De Mãe

Afinal...

faltava contar as favas


domingo, 7 de setembro de 2008

depressões súbitas

A colega era nova. Queixava-se do horário, do quarto frio em cave escura e diminuto, da distância de casa, da enxaqueca… Convidei-a para um cafezinho que se prolongou entre silêncios embaraçosos e mais uns quantos lamentos. Lá dentro a rádio local emitia os sucessos do momento; de quando em quando metia informações úteis, tais como:


Segundo avança a Rádio Renascença, Leiria, Coimbra, Guarda, Viseu, Aveiro, Bragança, Vila Real, Porto, Braga e Viana do Castelo serão os distritos afectados, nas próximas horas, por chuva e ventos fortes, razão pela qual a Autoridade Nacional de Protecção Civil avançou já com os habituais conselhos de auto-protecção.



Perante tanto infortúnio e ainda para mais com tanto Gustavo e Ike a fazer estragos por aí, arrisquei:


-Com este tempo, se calhar, era bom ficares lá em minha casa…
-Obrigado, mas não ouvi falar no distrito de Setúbal!
-Pois não! Mas nunca se sabe como o tempo evolui, né?
-Obrigado na mesma, mas… estou em alerta vermelho.


Pegou na mala, levantou-se. Vi afastar-se num belo movimento de saias.


Não percebi nada. E elas é que se queixam de não nos perceberem!

Hurricane - Bob Dylan

Hurricane (Bob Dylan and Jacques Levy)


Pistol shots ring out in the barroom night
Enter Patty Valentine from the upper hall.
She sees the bartender in a pool of blood,
Cries out, "My God, they killed them all!"
Here comes the story of the Hurricane,
The man the authorities came to blame
For somethin' that he never done.
Put in a prison cell, but one time he could-a been
The champion of the world.

Three bodies lyin' there does Patty see
And another man named Bello, movin' around mysteriously.
"I didn't do it," he says, and he throws up his hands
"I was only robbin' the register, I hope you understand.
I saw them leavin'," he says, and he stops
"One of us had better call up the cops."
And so Patty calls the cops
And they arrive on the scene with their red lights flashin'
In the hot New Jersey night.

Meanwhile, far away in another part of town
Rubin Carter and a couple of friends are drivin' around.
Number one contender for the middleweight crown
Had no idea what kinda shit was about to go down
When a cop pulled him over to the side of the road
Just like the time before and the time before that.
In Paterson that's just the way things go.
If you're black you might as well not show up on the street
'Less you wanna draw the heat.

Alfred Bello had a partner and he had a rap for the cops.
Him and Arthur Dexter Bradley were just out prowlin' around
He said, "I saw two men runnin' out, they looked like middleweights
They jumped into a white car with out-of-state plates."
And Miss Patty Valentine just nodded her head.
Cop said, "Wait a minute, boys, this one's not dead"
So they took him to the infirmary
And though this man could hardly see
They told him that he could identify the guilty men.

Four in the mornin' and they haul Rubin in,
Take him to the hospital and they bring him upstairs.
The wounded man looks up through his one dyin' eye
Says, "Wha'd you bring him in here for? He ain't the guy!"
Yes, here's the story of the Hurricane,
The man the authorities came to blame
For somethin' that he never done.
Put in a prison cell, but one time he could-a been
The champion of the world.

Four months later, the ghettos are in flame,
Rubin's in South America, fightin' for his name
While Arthur Dexter Bradley's still in the robbery game
And the cops are puttin' the screws to him, lookin' for somebody to blame.
"Remember that murder that happened in a bar?"
"Remember you said you saw the getaway car?"
"You think you'd like to play ball with the law?"
"Think it might-a been that fighter that you saw runnin' that night?"
"Don't forget that you are white."

Arthur Dexter Bradley said, "I'm really not sure."
Cops said, "A poor boy like you could use a break
We got you for the motel job and we're talkin' to your friend Bello
Now you don't wanta have to go back to jail, be a nice fellow.
You'll be doin' society a favor.
That sonofabitch is brave and gettin' braver.
We want to put his ass in stir
We want to pin this triple murder on him
He ain't no Gentleman Jim."

Rubin could take a man out with just one punch
But he never did like to talk about it all that much.
It's my work, he'd say, and I do it for pay
And when it's over I'd just as soon go on my way
Up to some paradise
Where the trout streams flow and the air is nice
And ride a horse along a trail.
But then they took him to the jailhouse
Where they try to turn a man into a mouse.

All of Rubin's cards were marked in advance
The trial was a pig-circus, he never had a chance.
The judge made Rubin's witnesses drunkards from the slums
To the white folks who watched he was a revolutionary bum
And to the black folks he was just a crazy nigger.
No one doubted that he pulled the trigger.
And though they could not produce the gun,
The D.A. said he was the one who did the deed
And the all-white jury agreed.

Rubin Carter was falsely tried.
The crime was murder "one," guess who testified?
Bello and Bradley and they both baldly lied
And the newspapers, they all went along for the ride.
How can the life of such a man
Be in the palm of some fool's hand?
To see him obviously framed
Couldn't help but make me feel ashamed to live in a land

Where justice is a game.

Now all the criminals in their coats and their ties
Are free to drink martinis and watch the sun rise
While Rubin sits like Buddha in a ten-foot cell
An innocent man in a living hell.
That's the story of the Hurricane,
But it won't be over till they clear his name
And give him back the time he's done.
Put in a prison cell, but one time he could-a been
The champion of the world.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Barrocas I

Ah malandra! – atazanava ela – Olha-me para esses pés, olha-me para essa blusa, para essa saia!
Fora apanhada a esgueirar-se para a casa de banho. - E isto é que são horas?

Para trás ficara o primeiro dia de férias. Sorrateiramente, logo que a avó, bem cedo, saíra de casa, voou para fora dela a morder o pão com goiabada, sem tempo de afivelar as sandálias, ao encontro da felicidade. E a felicidade morava, logo ali, onde terminava o alcatrão e começavam as cubatas: a do Dudu e da irmã, a do Lelé e das irmãs, restos entalando a casa de dois andares do Victor e do Alfredo, filhos do Sr.Silva camionista, que assinalava nova fase de conquista dos muceques, por uma cidade em expansão emperdenida. Vagueou entre elas perseguida pelo Pirolito. Ah o Pirolito! -cauda enrolada entre as pernas, em permanente zig-zag, no seu branco sujo manchado de negros, primeiro e incondicional compincha de todas as brincadeiras. À segunda volta, Lélé saindo de sua “casa”, espreguiçando o corpo dourado, costelas para fora, num cristo mal amanhado, recebeu-a com um muchocho, facilmente ultrapassado com a partilha do pão que ela roía e ele fez desaparecer em duas penadas; a Dudu bastou a primeira conversa para se apresentar com a sua carapinha desalinhada, dentes a destoar em tanto preto; o milagre do pão que restava aconteceu, mas pela última vez. Passivamente assistiu à decisão da programação do dia: Barrocas do Porto, por unanimidade e sem aclamação. O coração apertou-se-lhe porque barrocas não seriam brincadeira para ela, sabia-o bem. Viu-os recolherem as fisgas, escolherem as melhores pedras, as redondinhas, e partirem. Os “Bicos de Lacre” e “Peitos Celeste”, Cucos até, que se cuidassem.

Trepou à macieira da índia, escolheu as madurinhas, seguindo-os, lá do alto, viu-os atravessar o campo da bola para atalharem nas cubatas mais além.


Serenata do adeus.mp3 - Duo Ouro Negro

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Fado de amor, de amigo talvez

Espírito de leoa em outro corpo, lutando contra todos , é assim que a viam e a mordiam pelas costas. Não a viam lutando contra si mesma, presa a cadeias que a manietavam e diariamente rebentava, sabendo que outras nasceriam para se lhes ferrarem, mais que a carne, a alma.
Desenganem-se os que viam no seu rir ou no seu gesto desenvolto motivo de inveja; a sua língua certeira, e o olho em riste e de caras, que vos afrontavam e tanto temiam, a sua simples presença que vos fazia baixar a voz, ou até mudar de assunto não era uma ameaça porque incrivelmente desarmada andava ela.
Senhoras, aquele corpo de menina que tanto vos apoquentava, só aparentemente era frágil; saibam que os excessos correspondiam ao seu espírito. Quais excessos, muito amar? Amasse-se ela a si própria e ter-se-ia feito tão feliz como a tantos, acreditem, fez. Se quiserem falar de excessos, falem daqueles que se vos acumulam nas ancas, vos dilatam as barrigas e vos secam o ego.
Compreendo a vossa inveja mas não vos perdoo tanto mal querer, compreendo o mal dizer, afinal elogio vindo de quem vem, mas não vos perdoo a mentira e as suezes alusões. Na verdade até me merecem pena porque ela é a imagem que o vosso espelho não vos devolve. Não é?

Soubessem a dor que a assolava, quando via faltar a outros o que não lhe sobejava... como se ressentia do sofrimento de cão ou gato... como desejou ganhar asas e como se ateve, quase conformada, a um destino...

O mundo tão grande e a sua mão tão pequenina!
Fui dizer mal de ti a toda a gente,
Jurei, teimei, a todos convenci
Que eras um impostor que nada sente
E ainda hoje disse mal de ti!

Afirmei que me bates, que me oprimes,
Que és covarde, que és cínico e promíscuo!
Serias bem capaz dos maiores crimes,
Se te pagassem bem! Disse tudo isto!

Todos me acreditaram cegamente!
Nalguns olhos vi lágrimas luzindo!
Chorei, gritei, gemi cinicamente,
Mas cá dentro minha alma ia sorrindo!

Na boca das mulheres vi o lume
Do ódio, do rancor que eu acendi!
Menti a toda a gente por ciúme!
Só eu quero gostar, gostar de ti!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Como os chapéus, há muitos… III

Centristas

Não falo daqueles que peroram no parlamento ainda que sentados à direita. Ainda que se diga que é no meio que está a virtude, de virtudes está o inferno cheio e na terra ainda sobram muitas... pelo menos é o que ecoa.
Falo sim dos que do Vale do Coa ao Zambeze, dos que do Minho a Timor, sem temor, alardeiam a necessidade da manutenção dos ecossistemas e quando começa a vir à baila a porra dos sistemas…


Da formiguinha ao lince da Malcata, do imbondeiro ao aloé ou à doce ervinha, né?, da porra do jacaré à merda da hiena ou à merda de guano, tudo é para manter, pronto aceito.

E eu? Quem me mantém? Quando é que me metem no (eco)sistema? Tá bem, sei que sou um predador de viúvas, se elegantes, e seria de teenagers se isso nã desse cadeia. Papo tudo que seja de boa carne e só se safam os legumes, as frutas e os verdes porque me fazem cair o cabelo, principalmente os verdes. Ah por falar em verdes e queda de cabelo, vem-me à memória Fulguroso Esperto. E porquê? Esperto até é senhor de farta cabeleira! Mas as associações de ideias, como as cerejas, fizeram-me chegar a D. Ferreira, XICo. Esse mesmo o dos minutos verdes e dos vulgos carvalhos, lat. Quercus, pois foi, este mesmo, o mentor de Fulguroso.
Fulguroso ,é de bater Palmas, e não só. Acérrimo defensor dos sistemas, com ele não há carvalho que vá abaixo ou barragem que vá acima, não há aeroportos, pontes e TVG’s, sem estudos de impacto ambiental, , ou impacte, feito por empresa idónea e por eles recomendada; nada avança sem queixa para Bruxelas; co-incinerações ou aterros sanitários… isso é qu’era bom, a ver vamos quem fez o projecto.


Bom a conversa vai longa, chega de gastar latim com os ecocêntricos, pois.


Fulguroso Esperto, nascido a 25 de Abril de 1974, ao dar um passo mais longo do que a perna permitia, foi vítima de forte distensão na virilha.


Vai amanhã, definitivamente, a enterrar e não lamento nada.

Mas quem sou eu para…




Os Demitidos - Jorge Palma

Estás demitido, obviamente demitido
tu nunca roubaste um beijo
e fazes pouco das emoções
és o espantalho dos amantes.
Estás demitido, obviamente demitido
evitas a competência
não reconheces o mérito
és um pilar da cepa torta

E assim vamos vivendo
na província dos obséquios
cedendo e pactuando enquanto der
filósofos sem arte, afugentamos o desejo
temos preguiça de viver

Estás demitido, obviamente demitido
subornas os próprios filhos
trocaste o tempo por máquinas
tu és um pai desnaturado.
Estás demitido, obviamente demitido
arrasas a obra alheia
às vezes usas pseudónimo
tu és um crítico de merda

E assim vamos vivendo...

Estás demitido, obviamente demitido
encostas-te às convergências
nunca investiste num ideal
tu sempre foste um demitido
tu foste sempre um demitido
já nasceste demitido!